22 de dezembro de 2010

Apenas mais uma mensagem de Natal..

O tempo. Esperas e demoras de algo que há de vir. Conjugado em várias terminações, este temido inimigo interpõe-se aos nossos desejos de realização, como a ostra na formação da pérola necessita sofrer nas tardanças de seus incômodos. Enquanto penso, observo o presépio: Pai, Mãe, Espírito e vida, estendidos ao milagre de verbalização do Amor.
É assim: somente aquele que se demora na espera é capaz de se entregar à realização do que almeja de verdade, seja em nossa vida humana ou espiritual. Na busca de um bom emprego, na tão sonhada defesa da tese de formatura, na prova do Enem que tive que refazer por motivos omissos, ou até impudicos, na mudança que espero em minha casa, na minha unha encravada que não sara, é assim. Quando imagino tardar minhas demoras, vem Jesus, menino de colo, mudar-me todos os parâmetros. Pede-me mimos: esperança doada em olhar e virtudes, que se desdobrem em meus milagres e entregas diários. Pede-me promessas, um pouco, mais ainda, do que penso ser muito, e enxergo com lente de aumento o diminuto esperar de um dia inteiro.
A busca. Incessante, como as estrelas do Céu. Sempre estiveram lá, e estarão até o fim dos tempos. Faróis guias da salvação vindoura, futuro cheio de esperanças e consolos. As estrelas nos inspiram a recordação de viver em partes as marcas do Eterno. O céu nos inspira a eternidade de um passado cheio de futuro. Renovo meus sentidos, fazendo memória de meus vínculos familiares, espirituais, humanos: as realizações de uma vida inteira dedicada a ser feliz, mesmo nos erros. Nisso, convidados somos a voltar às origens de nossos primeiros passos, aquela que nos ensinou a andar e Aquele que nos ensinou a viver: ritos simbólicos que atualizam uma presença real, sensível mesmo que impalpável.
Tempo, tempo... O coração lateja sorrateiro a espera da presença de uma manjedoura carregada de esperanças, mesmo que o milagre venha a tardar, ou nunca chegue: o Deus menino sempre vem, Ele sempre chega a cada ano, sem nunca ter partido. Por isso, hoje mais que pedir, precisamos estender nossas intenções ao lapidar Divino, para que Sua luz encontre nossas esperanças de amanhecer, verbalizando os tempos de nossas esperas.
Amar o hoje em vista do amanhã, e continuar a desdobrar Jesus a cada dia mais, revivendo o Verbo na própria carne: Eucaristias doadas ao mundo, em plenitude de graças à Deus, no cotidiano ordinário de vidas abençoadas na graça de permear vida... Vida! Senhor Jesus, realizas em nós o Teu Natal, como se fosse a primeira vez. Inunda-nos com Teu Amor e Tua graça, Amém!

9 de dezembro de 2010

Em Deus, sou poeta.

Oceanos que não secam. Certezas compiladas na confiança de que o amanhã sempre vem. O sol que nasceu, a chuva matinal que regou as esperanças vulgares, marginalizadas pelos dias cheios de futuro. O que há de ser, já foi. O que há de vir, já existiu.
As belezas desbravadas pelos olhares desajustados de especialistas, que percorreram livros e livros, semanas e madrugadas em busca do óbvio.
As certezas. Sempre tão necessárias ao sentir, ver, ouvir.
Os fatos. Sempre tão necessários e minuciosamente desvendados e revertidos em sinônimos e explicações, índices, números: complexas ligações ao saber, esmiuçado em palavras.
O verbo. Célula germinal do amanhecer. A fecundidade do germinar o sentimento. As traduções, anônimas testemunhas da fertilidade inutilizada, riquezas de um fluir sem fim!
Eternos marginais da alma. Viciados, como o crack ao mendigo do centro da cidade. Os desejos se tornam donos, e pensam ser donos dos desejos... O poeta se encanta pela alma que deseja possuir, pensando ser livre, se faz prisioneiro: dos pensamentos seus que lhe limitam a rachar em míseras partículas um dom inteiro.
Observo os vitrais, já belamente poetizados por Adélia, Fábio. E, mesmo em cacos, continuam belos. Aliás, arrisco-me a dizer que sua beleza reside em seu partir pretérito, sabe lá Deus por qual motivo.
Não entendo, por muito, as razões do ruir. Mas cato, como um poeta busca dentro de si as palavras de um belo poema, os pedaços de vitral marginalizados por tantos, como eu, como eu: uma alma constantemente amanhecendo... Desconhecidamente agraciada, por si mesma.

23 de novembro de 2010

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A paralisia de um retrato. Nunca me detive em análise de tão suntuosa mensagem. Muda, sigo silenciosamente pelas escadas dessa trama, tão particular e fiel aos sentimentos. Olho em volta, vejo cenas em branco e preto, fotografias de um tempo incomum. Aliás, comum tempo de sabotagens aos meus encantos. Singular, sua conjugação transcende ao intelecto e compreensão, contudo não suporta o anonimato. A revira-volta não veio, o milagre ainda não chegou: vem a galope, já os ouço! Quiçá, os cavalos perderam lá sua graça... Junto com o tempo de ontem, na pressa de hoje, esquecida desventura futura. Tempo, tempo... não o reconheces mais? Estadias de outras paragens, na procrastinada vida ordinária.
Canto, lugar saboroso. Escondido... Encolhido. A curvatura da silhueta acomoda-se sem cerimônias. E os retratos passam. Repassam, retornam, voltam, vão embora. Pretos, brancos... Vez em quando um vermelho sutil surge no horizonte, mas já passou. O que não se foi, irá. Será poeira e vento que passa, no prosaico invulgar de um diário intransferível, transverso sonho de tempo que vai passar, vai passar... Eu sei.



Eclesiastes 3, 1 - 11: Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo dos céus: tempo para nascer, e tempo para morrer; tempo para plantar, e tempo para arrancar o que foi plantado; tempo para matar, e tempo para sarar; tempo para demolir, e tempo para construir; tempo para chorar, e tempo para rir; tempo para gemer, e tempo para dançar; tempo para atirar pedras, e tempo para ajuntá-las; tempo para dar abraços, e tempo para apartar-se. Tempo para procurar, e tempo para perder; tempo para guardar, e tempo para jogar fora; tempo para rasgar, e tempo para costurar; tempo para calar, e tempo para falar; tempo para amar, e tempo para odiar; tempo para a guerra, e tempo para a paz. Que proveito tira o trabalhador de sua obra? Eu vi o trabalho que Deus impôs aos homens: todas as coisas que Deus fez são boas, a seu tempo. Ele pôs, além disso, no seu coração a duração inteira, sem que ninguém possa compreender a obra divina de um extremo a outro.

11 de novembro de 2010

Obrigada!


Um dia incomum e normalmente triste, por sua representatividade em minha história. Um dia insípido, confuso, ao qual faço questão de abster-me do mundo e privá-lo de minha indigestão. Um dia como tantos, um dia como nenhum. Um dia.
Um dia em que abri-me aos meus, aos seus olhares, as minhas fraquezas, aos altares. Um dia em que percebi tamanha predileção e rispidez de meus sentimentos comigo, privando-me da abertura sincera ao Coração de Jesus. Um dia.
Um dia como tantos outros nove dias passados, em anos passados, em tempos passados, em conjugação pretérita imperfeita, à luz do melhor e bom pessimismo futuro. E porque não transmutá-lo, transfigurá-lo em O dia? O dia da reviravolta, sem revolta, no envolto de tantos véus escuros? E foi assim... ñão como ver o mar, mas como ver o próprio Cristo. Aliás, se não o vi, não sei o que vi então...
Se aquele ostensório de metro e meio assim que adentrei a Igreja, de tão imponentemente simples, de adorado e venerado por faces por terra...
Se aquele menino velho que de caduco se perde na vista das linhas das palavras mas é certo e certeiro enveredando nas linhas do evangelho vivido desde a juventude, em homilia livre de composições acessórias...
Se pelo não primeiro e sim seguido permitindo-me a comunhão perfeita em corpo e sangue com meu Cristo, partilhando de sua mesa, literalmente à sua direita, no melhor lugar...
Se pelo chamado à adorá-lo e simplesmente louvá-lo por sua beleza, por sua graça, por suas maravilhas, por seu Ser...
Se pela Maria que me abordonou para afetuosamente dizer-me que eu seja feliz pois já chegou o dia da graça e chegarão ainda mais...
Se pelo "Senhor, eu sei que tu me sondas" depois de andar alguns quarteirões à caminha de "casa"...
Se pelo, por fim, entendimento de ser a Samaritana leprosa do Evangelho, que modestamente e sem saber, até então, voltou para agradecer pela graça alcançada a quatro anos atrás, e, por fim, entender Cristo a me dizer: "sua mãe está no Céu sim, eu só precisava do seu abraço".
Por isso escrevo, por isso vivo. Esse dia que em tudo me foi consolo, até no que não o foi. E por isso agradeço a cada um, tendo rezado ou não, acreditando ou não, pois sei que fazem parte da minha vida, e sei que ficarão felizes com a minha felicidade hoje.
A graça alcançada precisa ser bendita, e bendigo o dom da vida de cada um, que é graça na minha vida, por me permitir a abertura ao mundo.

E esse é meu jeito de dizer: Obrigada!!!

27 de outubro de 2010

Ter fé

Quando se perde toda a referência primeira. Quando o cerne do aprendiz se tornou o aprendizado de aprendizes precedentes. Quando o mestre não mais observa a raiz, mas incomoda-se com a incoerência dos frutos. Quando o que existe proclama o que irá nascer, quando o que nasceu perdeu-se de sua essência criadora. Quando o que procede não mais precede de cuidados, mas é carente de zelo. Quando o que carece de exigências arrota arrogância de saber, sempre ter que ter razão. Quando o que digo precisa ser inscrito na alma de outrém, quando, quando, quando... De "quandos" em "portantos": autoridades perdem sentido, obediência fere a liberdade, aconchego transmuta em apego, atitudes urgem medidas, cansaço gera fadiga, ser reveste-se de fardos.
A inconstância do olhar. Todos os dias entram em nossas almas aquilo que, por muito, não quereríamos, mas permitimos que adentre pelos sentidos e carreguem de nós nossa inocência original. Seja pelo profissional, seja pelo pessoal, adquirimos experiências de vida pelas vivências que se inserem em nosso meio, pelo direito da vida de acontecer e pelo nosso dever de resposta a esses acontecimentos. Isso, tenho direito sobre o que se esvai de mim, sobre os desdobramentos de minhas reações. Não obstante, não o contrário. Perdemo-nos, por muito, pelo escoamento de nossas forças em querer controlar as reações precedentes, em chorar passados intransponíveis, em perder-se no presente e revestir  de carências um futuro cheio de possibilidades. É quando a fé vira patuá, não mais certeza de vida. Não mais chão de água firme, mas tempestade que afoga e faz morrer. É quando ter fé vira o jeans da moda, a blusa do momento, o show da temporada.
Perder-se. É como abandonar-se. Gera sentido duplo, se aplicado aos olhos de fé esvaída do orgulho de ser cristão simploriamente. Arroto fé, quando estou com estômago vazio. Sou como o copo limpo por fora e sujo por dentro. Daí, reconhecer-se gera conhecimento do que não me pertence mais. As atitudes de controle, já desmoronadas anteriormente, clamam o luto de seus últimos suspiros. Gritam desesperadamente perdão e clamam orgulhosas as simpatias pelo corpo que as pertenceu. Pertenceu, do passado "não pertence mais". A conjugação perdeu o sentido, porquanto a encarnação do Verbo virou transitiva e direta: quanto mais vivo uma verdade, mais essa verdade inscreve em mim suas reações, e o redor se torna verdadeiro campo florido por minhas vergonhas antecedentes e por meus desdobramentos arraigados no meu olhar. É a peculiaridade da diferença que faz a beleza das pequeninas flores do campo. Deveras, todo buquê de rosas precisa de pequenas ramagens para enquadrar sua formosura.
Quiçá, perder os sentidos faz mais sentido do que ter motivos para perder-se, não ter forças traz fortaleza, desmoronar faz melhor que construir... Gerar sol, mesmo quando o escuro da noite demora a ir embora. Por fim, louvar a Deus, pela simplicidade da existência humana, na gratuidade gerada na ascendência da santidade primeira.

4 de outubro de 2010

"Nós vos adoramos, e vos bendizemos.. porque por Vossa Santa Cruz, remistes o mundo!"

No dia de hoje, dedicado a honra e memória da vida de São Francisco de Assis, das Chagas, ou outro adjetivo memorável dado ao nosso irmão menor, relembro-me com muita devoção a dada passagem de sua Biografia, o livro "O irmão de Assis". Foi assim: estavam caminhando Francisco e Irmão Leão, quando o Irmão assunta acerca da ignorância e falta de "tato" e conhecimento do Pobre de Assis frente à ele próprio, vistas o reconhecimento público e festa do povo que o seguia e ovacionava a cada pregação em cada aldeia. Nesse momento, impelido e cheio do espirito de Deus, Francisco proclama: Louvado sejas meu Senhor Jesus Cristo, que usas de mim tal como queres, tanto que sendo pobre e miserável faz sair de mim maravilhas para que outros possam te louvar e bendizer o Teu Nome. A obra é Tua, meu Senhor.
Não são as palavras ipsis litteris dadas por Francisco ao Irmão. Contudo, a essência extraída dessa máxima da vida do pobrezinho se faz em mim e eterniza o cerne da pobreza e desprendimento evangélicos a ser almejados por nós. Francisco nada esperava em troca de seus desprendimentos, aliás, não se preocupava com o amanhã, nem sequer em termos de fidelidade. Desde todo princípio até o fim, buscou satisfazer a vontade de Deus, até na morte. Procurou, por muito, expiar os pecados do mundo, e muito sofreu pela ignorância de seu coração às malícias de seu redor. Buscava incessantemente a paz, interior e exterior, e admirava-se as pequenas maravilhas do mundo. Tanto, que quanto maior o planejavam, menor se fazia, menor era, e multiplicavam-se os milagres.
Hoje, me cativam essas palavras e entendimentos tão simples da alma do Irmãozinho, que em muito me guiam, ajudam e amparam na vivência dos prazeres de morrer em Cristo, para só Nele viver. Que na nossa fidelidade cotidiana, no hoje que nos é dado, possamos aprender com Francisco a bem viver a obediência fiel, santa e casta à nossa Mãe Igreja, que tanto amou, com retidão e sinceridade de coração. Em expiação às maledicências diárias de tantos que pedras atiram, rogai por nós São Francisco, para que sejamos firmes e fiéis a nossa vocação e chamado a santidade.. Que não mais fujamos de nossa Cruz, mas ensina-nos a bem vivê-la à luz do Santo Espírito de Deus!
São Francisco de Assis, rogai por nós!

1 de outubro de 2010

Meu Deus, eu escolho o Tudo!

A pequenez das coisas, das pessoas. Afinal, quem nota ou notaria uma pequena pessoa? Desapercebidos são os pequenos, escondem-se na grandeza de seus corações. Pequenos em atos, pequenos em gestos, mas nem por isso menores em virtudes, verso. Os pequenos nunca desejaram a grandeza, e por muito a alcançam, contudo de tão pequenos se fizeram que somente serão reconhecidos em si quando não mais estão entre nós. Oculta alma encontrada na grandiosa sensatez Divina. Linha tênue de ser em torpor, como decisão na liberalidade da vida. Marasmos e acometimentos, sensações e divisões: a alma se enfurece com a razão, vistas as constantes afrontas provadas na insensatez de outrora. Chegada é a hora da reviravolta, ou mostro quem sou ou quem fui. Acometeu-se o tempo das vistas, revistas, a vida virou livro aberto.
É assim, vez por outra é assim: os riscos de ser conhecido nos trazem as responsabilidades de nossas escolhas. Todas elas nos tornam carcereiros de nossas promessas. Já dizia São Paulo, prisioneiro sou do Amor, parafraseado por diversos, muitos ansiosos cativos que de tanto amar choram os desterros de suas almas. Restou por fim a consciência, perdida nos intentos de Teus olhos, Santos e Castos por natureza, que de absorta extraviou-se, desavisada e emaranhada nas confusões de nosso olhar. Por muito, esquecemos que o Amor que não é Amado não condena quem não o Ama, mas sobrevive de perdão.
Perdemo-nos na liberdade de nossos intensos questionamentos e esquecemos da voluntariedade de nosso aprisionamento: o que nos torna Amor é a liberdade da escolha de não estar, e ficar mesmo assim. Além, permanecer como oferenda de agradável odor e presença, sem ostentar grandiosidade ou preterimento, ao contrário: são os doentes que precisam de médico, não os sadios. Se fico, tenho ciência de que longe não sou inteira e sim metade, não o contrário. Se me permito cativar me condeno a conjugar a Vida com a minha morte. Se me permito ao cativeiro do Amor, o vou em inteiro, não em metades, pois há o dia em que ou me aparto ou parto... Há o dia de dizer: sou o Sentido, e o busco aqui, não mais em coerências proclamadas pelas indecisões da razão. Meu Deus... eu escolho o Tudo!

21 de setembro de 2010

Ser!

Engraçada a capacidade que temos de desistir de nós pelos outros, pelos dizeres e apontamentos. Sabemos quem somos, ou, pelo menos, pensamos que sabemos quem somos. Mas, se vem o outro e diz: eu não acredito em você, pisamos falso. É fato: a dúvida do outro gera questionamentos em mim. Fruto bom, se dado a devida cautela e buscado dentro de uma lógica ímpar de considerações posteriores: há controvérsias, das mais variadas e para  todos os paladares.
Nascida de atitudes não muito coerentes, talvez desavisadas, as incompreensões geram transtornos por muito irrevogáveis se não tratados de forma respeitosa. Ancorar porto nas diferenças sem persuadílas em nosso favor. A sempre vítima torna-se a humilde presença da desculpa que deixou de ser esfarrapada para virar perdão, graça e festa, por fim.
Não obstante, a graça engraçada pela vivência sincera de um coração derramado no prazer da obediência franca e leal aos ensinamentos precedentes, nascidos do saber viver: não mais escancarando vontades, mas enraiando cumplicidade ao Autor da teoria e prática. Questiona-se o primeiro pela falta do segundo, desculpando a ausência do último pelo outro, e voltamos ao ponto de partida. Afinal, viveria eu algo não vivido por outrém? Sim, claro que sim. De que adianta alcançar alto mar sem calcular o fôlego necessário para minha empreita? De que adianta alçar vôo rapidamente se sei que somente chegarei ao destino com outros a ajuntar força e precisão? O que falta em mim encontro ao lado, vice-versa. Porquanto devolvo, pela graça recebida, o dom desprendido aos meus cuidados, meu zelo. Se de forma certa? Não sei. Mas da forma de meus encantos, meus entendimentos e desdobramentos da minha alma. Afinal, existiria um jeito certo?
Entretando, uma só coisa tenho em certeza: a submissão é fruto do sofrimento amadurecido na mortificação de uma grande e até então irresistível vontade, em ganho não mais do controle de si, mas do domínio das inconstâncias em detrimento à subversidade gritada pela libertinagem, pois pensando bem, somente se vence a última no viver desprendido de aclamadas afirmações e averbações, afinal "a alma que busca a Deus e permanece em seus desejos e comodismo, busca-o de noite e, portanto, não o encontrará. Mas quem o busca através das obras e exercício da virtude, deixando de lado seu gosto e prazeres, certamente o encontrará, pois o busca de dia" (São João da Cruz).
Gritar clama escândalo, agir prova Deus. Escolhamos viver...

2 de setembro de 2010

É, não dá mesmo pra voltar...

Impropriedade. Qualidade do que é impróprio, que está fora da conjuntura normal do ser em que reside. Incoveniência, incorreção. Deslocamento... Decerto, somente reconhece uma impropriedade aquele que conhece o próprio, a propriedade em si, em todas as suas plenitudes e horizontes. Somente se reconhece desmerecedor do merecimento quem reconhece em si suas inadequações ao adequado, ao irrepreensível. Somente confessa a imperfeição quem reverencia o que é perfeito, pois o esmiuçou em cada pormenor, cada particularidade.  O mais constrangedor de tudo é que o que é posto não é imposto, mas brota do desabrochar de conhecer-se e ser conhecido, sem, no entanto, restarem cobranças. Os merecimentos nascem de desmerecimentos, e se transformam em graça, percetível desarranjar de ato pretérito que venceu o que quis ser, e por vezes sou e outras, nem tanto. Os desajustes, também comparados ao Incomparável, são sementes de joelhos dobrados que, sem saber, buscaram a posição certa de estar ao Sol. Afinal, busquei, sempre buscamos algo, sempre queremos algo. Sempre estaremos, mesmo sem saber, envoltos a pedidos e milagres, os pequenos absurdos cotidianos e incoerências humanas. Incorreção à mim, perfeição do querer em Deus... Ademais, administrar esse monte de querer junto, sem mexer na vontade humana, meu Deus... só Tu mesmo.
Voltar atrás sem querer ficar por lá. Olhar a paisagem que ficou, sem desejar ostentá-la. A beleza não reside somente no que vejo pela frente, afinal as águas profundas são turvas e retiram o direito de minhas pupilas enxergarem com clareza a limpidez com que a margem se apresenta. As ondas são mais seguras, afinal a terra firme me calça os pés. A sombra do coqueiro, o alimento fresco e à mão, os velhos amigos, os velhos hábitos, as sempre seguranças, os até então eternos costumes... E os sentimentos continuam a fazer maré contrária, com revência à senhora vontade. Outrossim, o que me chama diz que me ama, e esse Amor eu conheci, e que será o vento na medida do que apresento. Me dará as redes e me dirá o local, porém lançá-la dependerá de mim. Posso chamar outros à minha labuta. Posso pedir ajuda. Posso, tudo posso. Por fim, tudo depende de mim. Ir ou vir. Ficar, me afogar, nadar, navegar, tudo, absolutamente tudo, depende de mim: do que eu entrego e do que eu resguardo. Acreditar ou não, em sua palavra. Ser obediente ou não, aos seus pedidos. Ser fiel ou não às suas promessas. Aqui, não cabem condenações. Mas reconhecimento de quem sou, e de quem Ele é. E saber que nem sempre o caminho curto é o mais fácil, e nem sempre o caminho de pedras é mais difícil... nem sempre o alto mar é assustador: depende de quem te acompanha na viagem...

24 de agosto de 2010

Cativando


Explicar não sei, e isso não mais intimida. Não saber tornou-se prazeiroso, a frustração não se achou mais no espaço das misteriosas explicações. As coerências não fazem sentido, as prepotências já não tem abrigo. Os encantos da riqueza revestem-se de pacata simplicidade. Os adornos, tão necessários e vaidosamente indispensáveis um a um, peça a peça, sentido a sentido, vão sendo retirados e esquecidos: sua utilidade passou a nada... Ser tornou-se o fundamento, a viga mestra da edificação. Firmamento e chão se entrelaçam e um futuro cheio de possibilidades passa a ser um presente recheado de sentimento. O amanhã transforma-se em hoje, e o presente não mais atemoriza, verso! Sua é a única certeza temida.
A gama de medo transmuta-se em centelha de aprendiz. A prosa toma forma de silêncio, sábio professor. O casulo é lavado pelo orvalho da manhã, o aperto não incomoda mais. As gotas d'água que porventura molham seu interior também não. Esforço a esforço, solidão em sanção, de nada fizemos, de tudo somos feitos... Cada desprendimento, cada orvalho decaído, cada estação vivenciada: a inteireza que me coube e me trouxe até aqui. O tempo de ser verbo chegou, conjugação enfática do dito pelo Bendito. Saber-se em ser, viver buscando saber... Sair do casulo, abrir as asas: um novo vôo, sempre renovador e curativo. Um novo caminhar, fundado na teologia presente: sensível porquanto não palpável. A pupila não alcança as convicções da fé... E a simplicidade do ser alcança as entranhas, entrelaça-se às profundezas da alma, encarna-se nos gestos, nas palavras, nos modos, nas sapiências, nos desdobramentos e consequências. Por vezes a fala não acompanha o sentir. O gesto chega atrasado. A palavra, acessória e dispensável, interpõe-se vez por quando ao ser. Mas por gratidão sempre prevalecem pureza e simplicidade: apurados da Divina Misericórdia.
Afinal, temos sede de conhecimento. Mas, acima, temos pressa em Ser! Em conjugar os verbos inaptos por inutilização, sacralizados por vocação, conjugados na atemporalidade da graça! Isso sim é cativar a alma... Atribuir sentido ao viver. SER!

19 de agosto de 2010

E então direi: Meu Pai

O que eu sinto não tem nome. É um misto de 'sei lá' com alguma coisa indefinida. É uma extradição de pensamentos, o próprio ato, que se define como algo não pertencente ao meu corpo, minha alma, meu querer. É uma contradição aos meus preceitos mais sinceros. É uma contra luz, contra conceito, contra verso e prosa... É um contra-senso! É um amor ou ódio, rancor ou carinho, solidão ou solicitude. Imperfeição perfeita, imprecisão acertada, adesão ao ser...
A bula das prescrições de uma vida sincera, que homem nenhum atreveu-se a escrever: perdeu-se no infinito de meus propósitos a sua vivência aberta e concisa. É dever do ser, ou seria direito? Ser quem se é, em busca do que se pretende em si mesmo e em Deus, em troca e vice-versa. Sou em Deus, Ele em mim. Estou em Deus, Ele em mim.Quem é Deus, quem sou eu? E continuo sem saber o que sinto. Ou seria o que sentir?
Permitir adentrarem em espaço interditado, pelas vivências de outros dias.. Passado infundado, fundamentado nas dores de fazer doer, simplesmente por respirarem, mesmo que em seus últimos momentos de sobrevida, dias já contados nos dedos da mão. Já os pés, caminham na direção almejada pela centelha de esperança que ainda resta: onde tenha sol, é pra lá que eu vou. Certa, que a Presença não mais existe no tempo, não mais resta no desgaste das horas, não mais resta nos meus minutos, segundos diários, mas ocupa-me por inteiro, em cada centelha de meu ser, enchendo-me completamente... E então direi: Meu Pai, com o peito cheio de esperança, e com as certezas de um mundo inteiro...

"Muito longe estou de por em prática o que compreendo, entretanto só o desejo de consegui-lo já me tranquiliza" *Santa Terezinha do Menino Jesus e da Sagrada Face.

15 de agosto de 2010

Sem nome

Afinal, a contrariedade. Seria ela a inimiga de minha paz? Bem sei que me custa ouvir o que não quero, agir como não quero, fazer o que não quero, abster-me do que nem sei se quero mais. É um não querer constante. É um não fazer insolucionável. É um desprazer consumidor. É um rugir de dentro pra fora, novas sensações e anseios. É um nascer de solidão: afinal, olho pra todos os lados e não vejo escapatória. A morte não alcança a incapacidade de minh'alma. O vento não sopra pra esse lado e as decisões procuram a pauta da coerência. A fala robusteceu-se em desdobrar-se nos seus sentimentos. E sinto desabrochar cada vez menos coerência... É fato: a desolação anuncia chegada ao reino da paz. A paz, boa anfitriã e solícita por natureza, abre a guarda para a visita, apesar de indesejada: todo sentimento tem o direito de ser, sem restrições, senhor da alma que o encantou. Cabe a alma a docilidade da resistência, e a delicadeza da transformação dos sentidos, na beleza da transmutação das cores. Branco com preto gera cinza. Quanto mais preto, mais o cinza fica turvo. Quanto mais branco, mais aberto: as possibilidades de alumiar o que ostentará com sua clarividade e beleza, apesar de o cinza escuro ter o seu valor.
Limitar-se na ignorância da preguiça gerada pela imposição prescrita, pura infantilidade. Impõe-se regras, arroto vida, sacralizada pela experiência viva e concreta com quem a gerou. Santa presunção de desmistificar a benevolente solicitude do cuidado. Afinal, de que seria útil a fidelidade longe da felicidade? Creio mascarar as frustrações de fracasso infundadas em esfarrapadas desculpas de zelo... Quebrar a cara faz parte. Não o fosse, Cristo não nos soltaria no mundo do livre arbítrio, a aventurar com nossas próprias pernas seus caminhos. Se quero, me vou. Se quero, me entrego. Se quero, fico. Se quero, me lanço... Se quero. E o querer se perde em si mesmo. Afinal, que é o homem senão um eterno buscar do que se é? Que sou eu senão uma eterna permissionária de minhas certezas e consequências? De fato, se busco é porquê preciso buscar. Mais ainda, se busco é porque preciso, eu mesma preciso, percorrer todos os caminhos que me levam nessa empreitada. As permissões são acessórias, de adjetivo de definição completa de sua utilidade. E vou. Perseverante, pelo caminho de meus antecessores. E vou. Desfalecida, pelo caminho dos vitoriosos. E vou. Certa, livre da paralisante presunção de acertar sempre. E vou. Pelos prados e campinas verdejantes, eu vou...

6 de agosto de 2010

Alegria

Abrir as portas, escancarar as janelas! Aberta a temporada de visitas... E é uma felicidade saindo de mim.... Não confundir-se mais com o outro, não buscar em quem não tem as respostas de algo que urge dentro de mim, ansioso para nascer e transpassar as gerações. Não buscar no outro o que eu sou, não entender o outro como eu: cada um é dono de suas necessidades e anseios. Assim sendo, sou nome próprio e singular: a singeleza dos detalhes que me torna eu mesma.
Rosto no retrato, escada de subida. Saber-se amado, apesar das consequências. Saber-se amado pelas consequências. Saber-se. Entender-se. Entrenhar-se. Demonstrar consolo, carinho, amparo. Sentimentos despreparados e emergentes. Sentimentos entendidos desnecessários ao corriqueiro apressado. Atitudes desavisadas de carinho, esmagadas na ignorância da suficiência, superadas pelo amor improvisado.
Alegria. Simples, como o abrir de olhos no amanhecer. Alegria. Singela, como o desabrochar de um rosa. Alegria. Constante, como as ondas do mar. Alegria. Modesta, como o detalhe. Sorriso, que vem de mim e vai pra ti, e retorna à casa de morada. Alegria. De saber-se ser, e buscar quem sou, sem aperreio ou pretensões... Pra que pressa?

4 de agosto de 2010

São Francisco, rogai por nós!

Não sabia que deixar-se levar seria tão difícil. Para aquele que é levado, guiado, basta somente abandonar-se, o que teoricamente seria o escoamento das forças em prol do seguimento daquilo ou daquele que o leva. É, teoricamente. As vontates continuam vivas, sagaz necessidade de ser, reconhecidamente, o que sou, o que fui, o que minhas ânsias inspiram minha mente vivamente e asseveram: querem a prorrogação de jogo que o juiz já encerrou: é tempo de imperar a vida nova.

Deixar-se levar pelo sopro das criaturas. Deixar-se envolver pelo simples, mínimo e surpreendente pequeno detalhe. Ater-se ao essencial das coisas da vida, não aos acidentes da história. Surpreender-se pelo sempre desprezado, animar-se com as alegrias esquecidas e marginalizadas pelos que, até então, eram seus ideais. Superar-se em virtudes, aninhar-se em desdém, bendizer o nome de quem não se vê...

Alias, bendizer, maldizer... essas coisas sempre me deixaram muito confusa. Não acreditava que alguém poderia, simplesmente, maldizer a vida de outro. Degenerar, renegar, e submeter-se a esse desdém. Dispor-se, sem impor-se, deixar-se levar... É! Passível é aquele que se deixa levar: a ignorância, a arrogância... mas, que tenho eu? E a vida continua...

As páginas do livro me ensinam uma vida já vivida. O aprendizado retirado das entrelinhas me submete ao exame dos meus atos pretéritos e presentes. Como me localizar no meio de tantas abstenções? Localizar-me no sofrimento alheio, nas suas respostas, sem interpor razões que a própria razão desconhece? É fato: preciso de motivos para gerar atitudes de sentido aos meus passos. Vida pregressa, espreguiçada nas inconstâncias de uma, duas, várias almas. Surtir o significado de cada ato, cada vivência, sem caracterizá-la como boa ou ruim: o perdão já imperou outrora, não vale mais remoê-lo, não cabe. Seria o mesmo que renegar a divina misericórdia e, até, o Sangue Redentor do Cordeiro de Deus. Enquanto isso, as páginas passam, vão indo, linha a linha, palavra por palavra, letra a letra. Rogo sempre a minha doce Maria, que cada vivência desse Santo Filho de Deus entrave em minhas entranhas, e me façam melhor a cada dia, ou, ao menos, me façam desejar ser melhor a cada dia. Que não se perca nas prateleiras do esquecimento: cada migalha renegada, cada centelha de desamor utilizado como adubo para fortalecimento de suas forças, cada noite ao relento, cada oração em silêncio, cada clamor de compaixão, cada louvor, mas que transformem-se em música para os meus dias, lanterna para a escuridão da noite sem luar, sabedoria para viver as alegrias, farol guia das estrelas eternas, que se lançam em pedidos desesperados de apaixonados pela vida, pela natureza, pelas criaturas, que buscam amor onde não podem encontrar... Faz dessas experiências amanhecer, vigia que sou da aurora das vivências de quem me precedeu!

De um Francisco que me batizou, a um Francisco que me salvou, faço-me consagrar nas memórias a mística da escolha de almas prediletas, e o reconhecimento de cada chamado, salvando o primeiro pela doação de alma do segundo...

São Francisco, rogai por nós!

30 de julho de 2010

Permita-me!

Tirar a cabeça do lugar, de tudo.
Sair da rota de um rumo, de um sonho.
Enveredar abismos, encompridar distâncias, permitir-se na lentidão.
Dar a ré, sair do caminho, ir ao encontro do acostamento, perder-se de vista, deixar-se perder de vista...
Avistar outros caminhos, outras distâncias. Perceber outros carinhos, outras estâncias.
Avistar novos reinos, novas verdades. Descobrir preceitos e vontades.
Angariar amizades. Despir vergonhas.
Sozinho se vai mais rápido.
Acompanhado se vai mais feliz...
Ouvir o lado, o traseiro, o atrasado. Saber-se ser quem se é, e ser feliz mesmo assim.
Sorrir pelo lisonjeio, passear pelo estrangeiro: enganos de uma vida comum, excomungada pela vaidade.
Permitir-se, muito além de libertinagem. Abstrair, muito além de subsistência. Viver, muito além de transgredir.
Conhecimento, ciência da razão, antropologia do sentir: ser, estar... enraizada ânsia de infinito progressivo, como os primeiros raios do sol.
Andar a pé, puxar a ré. Reconhecer em si o outro, o outro em si mesmo. Não perder-se, apreender-se... empreender, felicidade aprendiz!

"Vem de mansinho a brisa e me diz: é impossível ser feliz sozinho!" ;-)

20 de julho de 2010

A riqueza de um detalhe

A riqueza de um detalhe nos aponta a preciosidade residente na simplicidade empoeirada. O canto do passarinho, o nascer e o por do sol, o barulho do mar... A humildade ressoante em atos simplórios de humanidade feliz, reluzente em saber-se percebida pela natureza silenciosa das Criaturas. Tempos em tempos me vejo assim: admirada com as belezas ostentadas pela flora, fauna, astros, paisagens... E ainda continuo a me surpreender com o sempre belo e esquecido, detalhes de uma foto de verão.
É quando o cotidiano deixa de ser carcereiro e passa a ser auxílio esquecido para o próximo passo, visto que meu dia ontem não faz diferença ao meu olhar de hoje: o coração palpita por outras emoções. As necessidades são as mesmas, a direção do olhar é que mudou. Nada parece ter as mesmas necessidades, as mesmas intensidades, a não ser a preguiça de ser, em retirar o acelerado dos atos, e andar na presunçosa calmaria do balanço das ondas. O horizonte, mesmo distante, parece alcançável pela palma da mão... assim como o Céu e toda a Terra.
A riqueza dos miúdos, trocados em verso, prosa, vivência, olhar, que de silenciosas conversas entendem o sentimento inteiro. Se tudo muda o tempo todo no mundo, e já dizia Lulu Santos que não adianta fugir, fingir, seremos: em intensidade de graça derramada nos pormenores da vida, onde reside a preciosidade do Ser.

12 de julho de 2010

Sua pessa, sua prece..


Prece que acalma a alma, alma que tem pressa. Pressa de ver o que há de vir acontecendo. Prece de acalmar os sentidos, para ouvir o coração. O corriqueiro apressado, que desapercebe o envolta, envolto a tantas delongas, necessárias atenções cotidianas. A prece, calma e solitária, aconselha o ouvido a tentar convencer o corpo inteiro: é hora de silenciar. Atinar ao redor, primor de saber-se percebido, acompanhado. Escoimar a eterna necessidade do falar, incorporar o sentido do calar. Revestir-se da vestimenta do silêncio, perceber-se e perceber, deixar-se ser percebido nos encantos teus.
Falar. Dar sentido. Trazer ao movimento da vida as necessidades da alma. É como se falar trouxesse vida ao que em mim prepara-se para seus ultimos dias. Falar acende chamas, explora matas secas, fontes inesgotáveis de esplendorosos incêndios. Enquanto calar canaliza a virtuosa água que enxarca a terra seca e a retorna a sua dignidade fecunda.
Falar, calar. Apressada prece que apressa o que há de vir. Minutos, dias, anos, quem sabe, Deus sabe... Enquanto isso, a prece apressa a calma, que tem pressa de prece, apressada alma que não tem calma, até a prece que acalma a alma...

23 de junho de 2010

E a vida?


Meu passado não aprisiona mais o meu futuro. Não possui mais o poder de estancar minhas inconstâncias. Ao contrário, é remédio curativo para administrar minhas mudanças, como o gotejamento é necessário a plantação no árido: preciso de homeopáticas doses de lembranças para sarar o viver presente e abrir-me a um futuro de possibilidades.

Entender-se como quem se é. Surpreender-se pelo possível desprendimento de si, abrir a janela para o sol entrar: recursos escusos por mim, minhas raízes sempre presas na certeza de todas as consequências sem abrir-me ao leque de pretensões a mim expostas. Deixar o sol entrar, estabelecer morada. Afinal, que tenho a perder senão a vida? Que é a vida?

É passado, presente e um futuro de possibilidades findadas nas escolhas plantadas em dias ruins ou bons, felizes ou tristes. É felicidade trancada, é tristeza aberta. É dia de sol inutilizado, dia de chuva aproveitado e é vice-versa. É bobeira, beleza, alegria e tristeza. É amor e perdão, sansão ao que não amou, ânsia de espera, outono e primavera: cada estação com sua beleza e tendência peculiar a remeter a vida da forma que precisa ser vivida em plenitude de entrega. A natureza leciona belamente a maior riqueza que um ser humano pode aprender de Deus: a nascer e morrer, desprender-se de vaidades ou abrir-se a beleza, conforme o mundo ao seu redor se apresenta.

Que é a vida? Uma gama de possibilidades de ser feliz!

20 de junho de 2010

Cuida de mim...


Pra falar a verdade, Senhor
Às vezes, minto
Tentando ser metade
Do inteiro que sinto

Em meu coração
Que pulsa
Por um amor verdadeiro
E quer
Se doar por inteiro

Mas mentirosa e traiçoeira
É minha razão
Banaliza o sentimento
E emudece a ação

Sou capaz de forjar
Em mim desculpas
Esfarrapados motivos
De me redimir sem culpas

Para não sofrer
No desalento do engano
E adormecer o dia
Revolta e em prantos

Dou-me em metades
De desconfiança plena
Dou-me em inteiro
De estações incompletas

Rogo o cuidado
O carinho, o amparo
Rogo a acolhida
Quero dor, bendita

Rogo a chance
O sempre último primeiro motivo
Peço o abrigo
Vela meu sono...

Abono
Da promessa
Do querer, em mim,
a terra....

12 de junho de 2010

Inadequações

Sentir-se incomodado com o quadro torto da parede. É como a vida: em tempos de crise sempre colocamos o olhar principal para algo perfeitamente passível de desprezo e esquecimento, corriqueiro vício diário, incapaz de me lançar no abandono de minhas morais, raízes de minha fé. A razão arrasta-me a um oceano de verdades, lícitos exemplos de: como consertar sua vida em um dia. É literatua tentadora, contudo profanas são as insinuações.
Verdade, me sinto ferida por tais averbações simplistas. É como se minhas inadequações fossem desnecessário e excessivo zelo com algo que perdeu o sentido, já é ultrapassado. É como se todos os meus problemas tivessem raiz no que hoje não me pertence: em minhas abstenções. É como se meus desprendimentos residissem numa fonte inesgotável de meus primorosos defeitos: virtude de como solucionar problemas complexos.
É, dificil estrada de caminhar, se visto da perspectiva do que me vê. Por vezes, me pego enxergando-me com o olhar do outro, sempre aquele que tem uma sugestão mirabolante para meus problemas. É quando me pego enxergando-me inadequada para a vida montada, que me espera nas projeções de outrém. É quando peso a vida com a balança das decisões eivadas de solidão, de seguir na contra-mão do mundo. É quando a mochila pesa, e você começa a repensar em tudo que você traz consigo: é hora de ser pelo Essencial, mais uma vez, e abandonar pelo caminho os pequenos pesos que incomodam, vaidades de outrora, hoje sabidas desnecessárias para seguir.
O jogo continua: as peças, sempe as mesmas. Quebra-cabeças sem fim, que segue no corriqueiro da vida. Mas cuidado: nunca deixe que o cotidiano lhe roube o que você é por essência, aquele que somente você pode ser. Nunca deixe que o corriqueiro da vida lhe torne peça dispensável do seu quebra-cabeças: no desafio de ser gente! Gente que faz a diferença... Lembrando sempre que os outros lhe vêem da mesma forma que você se vê... Quem você é.

8 de junho de 2010

Castelos de areia: minhas ilusões, preservadas em meus sonhos irriquietos, que teimam em resistir em mim. Afinal, o sonho não seria a projeção de um desejo profundo? Ápice da vontade? Cume do anseio? Significá-lo por ilusão... temo, por vezes, reduzi-lo as minhas incapacidades, acomodadas nas esperas, desses dias em que só quero que termine bem, que se completem minhas horas de exibição para então recolher-me em minha insignificância.

Seria então, ilusão o sonho? São tantos, meu Deus... tantos e muitos... Vontade de viver neles, em felicidade sem fim. Mergulhar na realidade, possibilidade de viver o impossível de hoje. Hum, gostinho de Céu. Tocar os limites, meras linhas imaginárias e sorrir por sua volatilidade, inconsistência e impotência em deter uma alma livre... toda livre!

Sabe que isso tudo junto e misturado é interessante: minhas impotências de estimação, reconhecidas capazes de deter minhas coragens e minhas coragens capazes de vencer minhas impotências! (risos) Senhor, eu chego lá! No sonho Teu, eternizado no meu viver... Castelo de cristal, com vistas para o mar do Teu amor.

7 de junho de 2010

Pedido de desculpas

Desculpe se não sei rezar. Sempre me perco nos tantos pedidos alheios. Por fim, me acho no amém seguido da entrega, que não mais se acha no que acredita, pois se tornou a própria crença.

Desculpe se não sei amar. Sempre me acho nos encantos de teus olhos, e confundo-me nos dias perturbados, como a criança se distrai com a sua nova descoberta. Não é que eu não ame com tudo o que eu posso, mas por vezes não permito-me a todos que amo.

Desculpe se eu sumir. Sempre me esqueço em meus afazeres, perfeitos para minha sempre solidão. Neles, me incumbo de ser útil para mim, minha vida. É como parar em mim e saber que estou viva para os outros.

Desculpe se eu chorar. Nunca sei como agir em alegrias extremas, tampouco em tristezas profundas. Carregar minhas dores ao meu Calvário particular, para então morrer e, por fim, ressuscitar é tarefa solitária. Ou, simplesmente, emergir tanta alegria que não caiba em meu coração, e meus olhos enciumados clamam por atenção, sorvendo um rio de misericórdia para minha alma cansada.

Desculpe se eu reclamar. Por vezes não caibo em mim de tanto furor, por ver o erro ao alcance de minhas mãos: sempre tenho o instinto de ser a artesã escolhida para consertar os fatos. Mal sabe, pobre infeliz, esse é um papel que só cabe a Deus.

Desculpe se sou feliz. A felicidade em mim aflora em cada amanhecer, como a aurora ansiosa pelo dia, e o luar pela noite. Desculpe se meu amanhecer trouxer pranto, a chuva por vez cai em meu quintal. Ela prepara o solo, bem como alimenta de esperança para o fruto vindouro.

Por fim, desculpe-me. Pois cada ser é único, e busca ser o que acredita, no saber de cada coração que perpassa a alegria de ser quem se é, e vez por quando renasce numa alma feliz.

30 de maio de 2010

Lágrimas de diamante

Cumplicidade. Alcançada pelo desprendimento de si, sem motivação aparente. As renúncias são várias, de vários aspectos. Impetuosa, se interpõe ao caminho a dificuldade de vivê-las, adornada em embrulhos primorosos vindos em dias de solidão e abandono. Viver a recusa muitas vezes é excluir-se do convívio de raros, ou privar-se de objetivo de desejo sólido e lícito: abster de saciar-se com as delícias da vida. Que mal há? Nenhum. Vários.
Se abandono o abandono não abandono propósitos mas o que eu poderia ser em primazia de virtudes e potencialidades. Se despojo-me da privação sem esgotar todas as possibilidades de desprendimentos às minhas vergonhas, arroto a ignorância da auto-suficiência, não deixando a graça de Deus entrar para estancar o sangue que corre e me torna impuro, impureza trazida pelo meu olhar de condenação perpétua aos meus descuidos de outrora, minha falta de zelo com minha ingenuidade. É quando sinto uma força sobrenatural vir de onde não vejo, como que reafirmando a renúncia, os preceitos evangélicos como verdades inerentes a vida que não são impossíveis de ser vividos, e sim que preciso deles para então ter vida.
Linda. De olhos belos e tristes. Assim se apresenta o ser em minha frente. Seu coração, corrompido das concupiscencias de dias tão longínquos refletem em sua fronte a aflição em plena floração. De repente, lágrimas de diamante saltam dos olhos, desejosas de seguir seu rumo, sem interrupções. Já não sabia como pedir ou começar a clamar. Já não sabia mais quem era: desfigurou o presente, permeado em culpas passadas e desenterradas. A aflição tem disso: nunca vem sozinha, sempre se acompanha do pacote completo da agonia: perturbação, quem lhe perturbe, falta de tempo e algo que nos seja motivo de culpa indesculpável. Calar sugere omissão. Falar sugere perda. Colo sugere Deus.
É quando passa um filme dentro de mim, e todo o curral do meu restrito entendimento é aclarado pela luz do Amor. É quando a privação torna-se abandono e graça, de permear em outrém aquilo que eu mesma vivo, e se torna verdade tão forte que as entrelinhas do aconchego revelam a Cristo em mim e conseguem tirar o embaçado da vista do outro. A condenação mandou lembranças, pois não achou guarida no jardim de meus braços, que abraçam a criança que só quer reaprender a andar com as próprias pernas.

24 de maio de 2010

Porque esperar é preciso...

Anda, vai! Corre, infinito, avante! Suplico-te que se apresse sem mais demoras, ao infinito de meus dias... Completa minhas horas de sobrevida, para, por fim, reinar a felicidade de meus dias viventes futuros...
As promessas de dias melhores, o final feliz do escritor, feliz autor de rara beleza. Saber ser e esperar, na esperança de viver o que se espera ser... mas, e se o que eu espero não vier? Espera-se por algo, e se ele não chegar? Se a promessa não se cumprir? Haverão culpados? Restaram os questionamentos... Superabundou a graça...
Nadar contra a correnteza até o braço adormecer. Os músculos, porém, não são os mesmos do início da labuta: robusteceram-se na graça da perseverança. Desbravar alto mar, por vezes penso ir sozinha, e avanço em mar aberto por minhas próprias forças, tolinha... não dá um metro retroagi vários outros...
Permanecer, estando fiel atentamente a felicidade que se sobrevém, porém o coração permanece inerte: a vida como é levada não é suficientemente bastante. Algo grita, sussurra e paralisa a vista: a direção contrária da maré afetou meus movimentos porquanto na nuca ressoa o cansaço. É quando vejo aproximar-se um banco de areia, alucinadamente desejoso de desposar-me, para meu desfalecer.
Lembro-me dos dias de outrora. A solidão ensinou-me a repensar a vida, na perspectiva de agradecer a Deus pelos meus dias maus, com a solicitude e alegria inerentes a dias de festa. Em tudo dei graças, em tudo amei... Deixei sair de mim o que se esvaiu e nem sei direito porque guardava e apoderou-se de mim rara alegria de saber-me conhecida em todas as consequências. Em tudo dou graças, na esperança cega do vivente, sem querer que vire troca meu querer, como cobrança de dívida que não se tem a mim... Divino Humano que se entrega tem disso: ora ou outra quer recompensa do incompensável. É assim, cai a noite é assim, de dia prossegue como que cobrando do outro o que ele deve ser, por você ser também...
Seguir nos dias, humanizando a paciência, divinizando as demoras, sofrendo a espera, sem pressa: de ser fiel, mesmo se o que eu quero não o queira Deus. Quem sabe, nossas vontades um dia coincidam... Só assim, amei!

22 de abril de 2010

Menina feliz, mulher aprendiz...

Cuidadosa. Revisitou cada cômodo, como alguém cauteloso que revisa toda a vida antes que lhe batam à porta. Como a professora que corrige as provas de sua turma. Como o escafandrista do Chico Buarque, ou a pontinha do pé da bailarina... Reabrir seu ser a visitações era doloroso: sabia que deixar-se conhecer acomete aos riscos de ser conhecida. Seu ser, acostumado as fadadas esperas, não importunava-se com a reconstrução de cada pedacinho que clamava pelas demoras do que nunca existiu. Tinha ares de felicidade. Seu sorriso, porém, remetia tristeza, angústia que nunca passou. Seus passos, sempre firmes, sabem aonde vão, mesmo que subitamente cometam enganos. Sua pele ressequida de sol, com brilhante e singular brancura: seu passado não mais importunava, porquanto o ressequido se extinguia com suavidade e desprendimento. Marcas de um tempo ruim? Nem tanto. O que passou serviu para o que há de vir seja vivido de forma mais proveitosa, a fim de gerar vida nela, e com quem tiver o prazer de simplesmente lhe rodear. O sol? Nascia para ela todas as manhãs... a chuva vinha vez por quando, mas com ela mantinha pacto de sair de mansinho, para que a lua alumiasse seus pensamentos. Enamorou-se por demais na vida. Hoje permite-se viver sem cobranças: não que não o queira mais (o amor), mas optou por enamorar-se antes de namorar a alguém. Seu olhar é mutante: ora dengo de menina, ora certeza de mulher. Anjo tecelão dos tempos, ajuda Deus todas as manhãs do ano a desenhar o mais lindo dia, para o coração dos valentes viventes acreditarem que hoje é o dia de ser feliz... Seu suor tem cheiro de flor, sua raiva é passageira e seu coração é tão grande que o próprio Amor nele mora com Pai Filho e Espírito Santo. Medo? Muitos. Aliás, todos. Sobretudo das expectativas: olharás e verás Carla Lacerda Viana. Eu? Olharei e verei alguém que reviu sua vida, e conseguiu enxergar algo que vale a pena: todas as perspectivas e expectativas do que não vivi, na perspectiva e espera do que hei de viver.



"Abri a porta e antes de entrar, revi a vida inteira..." * Milton Nascimento.

18 de abril de 2010

Mais do mesmo

Me pergunto sempre porque não consigo desenvolver meus pensamentos, desenrolar meus sentimentos quando estou feliz. Verdadeiramente, até meus escritos mais primorosos, repletos de nuances alegres são extraídos de um coração machucado. É, tenho atração pela dor. Sinto-me mais sensível ao palpável sentir-me amedrontada, acuada pelo que em mim não tem nome, virou sentimento.
Foi ai que percebi: reajo com meu dom quando nada mais em mim tem vida. Retiro do fim o recomeço. Abro janelas, se as portas emperraram e não consigo olhar de frente para o sol, de braços abertos, a rodopiar... Se a chuva cai mansa, e o horizonte turvo não me deixa ver as esperanças trazidas pelo vento que vem do norte, opto pela calma da espera. Opto por rir, por ser feliz. Opto, sobretudo, por ser.
Aprendi na Verdade que Ser significa muito mais do que aparências: vai além dos meus atos, das minhas consequências. Aprendi, sobretudo, a não mais considerar o outro por suas incomrpeensões, ir além dos erros ou acertos: balancear as atitudes, sábias aprendizes da felicidade, deixando aflorar do coração o verdadeiro sentimento. 
Coisa boa isso, deixar sair de mim a alegria que emana de um coração vivente, por saber-se ser quem se é! Viver as virtudes de uma entrega, saber as demoras da espera, e mesmo assim esperar, na esperança  do amor enraizado no ser, que virou vida...

4 de abril de 2010

Fe-li-ci-da-de

Levanta-te
Olha a tua volta
P'ra que esperar o que passou?

Observa
Revive a tua história
Chora a dor que te adornou...

Lembra-te
Das chagas abertas
De quem tanto te amou

E então
Retoma tua vida
Te coloca em teu lugar, e serás

Além de tudo que já existiu
Muito além do teu entender
P'ra lá das tuas promessas
Muito mais que teu proceder

No infinito de tuas obras
Tardarás e não falharás
Muito além de toda espera
Há um Céu pra se contemplar


por Carla Lacerda e Viviane Frutuoso

2 de abril de 2010

Confiança


Erupção.
O ímpeto saído de mim, como grito que ecoa em um infinito de consequências. Uma voz lá de dentro, anseosa por um passeio na ociosidade das memórias, póstumo furor de outros dias. Algo que de tão caro caiu no óscio do cuidado excessivo, primado essencialmente pelas cautelas do zelo.
Rugir.
Movimento ocasionado pelas incompreendidas demoras do ser, que se esconde como servo fiel de tamanho presente, preciosa ostentação de rara grandeza, defensável com a vida.
Ruir.
Frustração, que de esperar viver um futuro de sonhos e expectativas, esquece-se das vivências do tempo de hoje, abstendo-se de sentir, de SER fiel no propósito da cruz, mesmo que a ressurreição demore a amanhecer em mim. Esconder-me na chaga do sofrimento, conjugar em primeira pessoa as dores, derramar meu próprio sangue, sofrer, aceitar amar até doer, até ferir o orgulho, a vaidade, chegando ao ápice do egoísmo: o amor próprio. Deixar sair o pus, sangria de infelicidades... aceitar a loucura de um cálice proposto e beber solitária o vinho do humilhado.
Enlouquecer.
Chorar desvairadamente, chegar ao cúmulo de rolar ao chão, suplicar o auxílio do alto que parece não existir: sou eu, minha dor e o mundo a me esmagar. Chorar, desesperadamente, ao passo de sobrar soluços e faltar ar nas narinas. Silenciar os sons, os pensamentos, os sabores, os prazeres, as vidas, os desejos, as vontades, o ser. Morrer para minha existência: alcançando todas as definições do meu eu, e todas as suas potencialidades.
Empobrecer.
Viver as misérias do pobre, em todas as flexões e expressões da palavra. Rasgar minhas vestes, minhas inteligências, minhas verdades, sobretudo minhas mentiras, insuperáveis companheiras em reflexões. Perseguir despida pelas ladeiras do entendimento, como a louca desvairada do Reino, que de tanto errar encontrou-se com os acertos da vida, e lembrou-se do assoberbado cuidado, do bem zelado e não utilizado. Seria tarde para aprender todas as consequências de impregná-lo novamente em meu ser? Saberia eu bem fazê-lo?
Verbalizar.
Tornar à vida o que eu sou, sem mais esconder-me, como a presa de seu predador. Afinal, seria eu consolado ou consolador? Os dois. Criador e criatura. Obra prima e pintor. Criatura e Salvador... Mão a mão. Confiança e traição. Amor e perdão. Confiei no Teu amor e voltei! Sim, aqui é meu lugar... Vou errar sim, mas a retidão no coração superará as expectativas de uma vida tranquila. E quando nada mais restar, ninguém sobrar entre nós, a não ser as ruínas do que fui, permaneça em mim Teu olhar, que eu permanecerei em Ti, até o nada.

4 de março de 2010

Cessar-fogo

Meu ser nunca esteve tão leve. Minhas limitações nunca pareceram tão desnecessárias. É como um cessar-fogo entre o que sou e o que quero ser. É como se ambas as vontades, tão contrárias por natureza, confluíssem em uma mesma direção. É como se meus desejos mais profundos de dever ser se instalassem em mim, ao passo que minhas consequências tem plena ciência do alcance de meus atos, e estes se transformam em flores ao invés da dureza dos espinhos. Lá, onde as tentações de refúgio tornaram-se acessórias para acolhimento do momentaneamente desnecessário perdão, da eminência, no encalço de meus dias. É, essa tal de solidão acompanhada, com nuances de Jesus me ajudando a desenhar o carinho da vida, o amor do cotidiano, os passos do viver...
Sinto-me não mais presa aos meus enganos, mas participante de uma graça que me é própria, livre de toda a maldade de meus intensos pesadelos: tristezas do ontem embuídas em partículas de culpa. Graça minha, engraçada pela liberdade de saber-se amada, nível extremamente compensador do ser cristão: é como quando após um longo e massacrante inverno a primavera seja tão primorosa, que o tormento vivido, apesar de fincado em meu ser, tenha valido a pena. É como quando o cobertor é tão quentinho, que o frio lá fora existe, mas nem importa mais: afinal, de que vale olhar o desamor, se dentro de mim existe amor?
Procurei em vão repostas para explicações coerentes e direitos meus. É, aprendi com a criança que ser feliz não é direito adquirido, mas força de vontade: alcançar o coração alheio não é aquisição, é virtude. Sozinho não se vive, tampouco feliz se é.
A verdade? Não sei. Na verdade, nem me interessa muito sabe, esse troço de ter razão? Aquela tal da racionalidade... Hoje aprendi a lição da minha vida: onde encontrei amor, encontrei a Cristo, e lá certamente darei risada e serei feliz, até o próximo Cristo encontrar-se ao que vive em mim...
Afinal, bom mesmo é doar-se! Deixando-se primeiro ser encontrado, para só então saber ao certo o que procuro... Sair de cima do muro, assumir postura, encarar olhares, escancarar os altares! É assim: que eu deixe só o bem que existe em mim... Pra sempre assim: vivendo em Cristo, e Ele em mim!

26 de fevereiro de 2010

Relaxa!...

Nunca passei desapercebida. Engraçado, nunca tive pretensões exibicionistas além de ganhar altitudes de patins, despencar em abismos, dar salto mortal na piscina, rasgar joelhos, bater a cabeça, enganar, desencanar, tentar dar o melhor de mim no que faço, seja limpando o chão de casa sozinha, seja lavando a janela de minha vida, com soprinhos de "I love you". 
A verdade é que, mesmo que eu negue e não admita, existem pessoas que não gostam de mim. E o mais instigante é que essas pessoas um dia disseram admirar-me, ou foram minhas amigas. Engraçada essa mística: vencida a etapa das descobertas, onde entramos no ser um do outro e, sem gostar do que encontramos impregnamos no que vemos defeitos nossos como desculpas para não gostarmos do outro...
Hoje, meu trabalho me exige aventuras sobre quatro rodas em minhas viagens, diferentes das oito rodas dos patins... Não tenho tanta coragem assim de desafiar o insano seguidamente como antes: hoje preciso tomar fôlego para, somente após restabelecida, entrar no desafio de viver novamente. Sigo o rumo, endireitando o prumo: mistérios envoltos a contratos e distratos, na alegria e na tristeza, na saúde ou na doença. Sinto, não posso admitir abstenções, sobretudo trabalhistas: sou viciada confessa no que faço, apesar de minhas consequências não me definirem em completude. Alias! Meu trabalho é parte do que sou, não o que sou é parte interina do meu trabalho. Contudo, me sinto incompleta se não estou completa no que sai de mim... Com isso, acho que ganhei inimigos na vida....
Afinal, a vida não passa desapercebida por mim... Por que haveria de passar desapercebida na vida?

17 de fevereiro de 2010

Em tempo de deserto, quem tem fé é Rei..


Deserto. Palavra de significado forte e marcante, alguns diriam massacrante, se vista da perspectiva do descaso, insegurança, abandono. Prefiro ater-me a compreender esse fenômeno como abandono de si em prol do nascimento de outro eu, esquivo das prisões antecedentes.
Assim, passo os momentos de solidão embuída nas incertezas da escassez. A experiência da falta, que levada à extremidade de suas limitações desperta em mim instintos inobserváveis em situações normais. O cansaço excessivo, o trabalho exaustivo, o sabor engolido, o prazer enganado... Todas essas sensações de privação, esquecidas no tempo de nossos antepassados históricos. Sentir ficou tão ao alcance das mãos que privar-se virou sinônimo de pobreza, de sabotagem, do ser e suas consequências. Mas, não seria o contrário? A medida que minhas medidas não tem mais medida, torno-me prisioneiro de minhas consequências, onde meus atos me definem, não o contrário...
E nesse buscar do ser em que devo, longe do que posso, desertifico minha vida.
Que devo eu?
Em tempo de incertezas, as certezas são perfeitamente dispensáveis. Prefiro o solo fértil das perguntas. Quem tudo sabe, acaba por esquecer-se em si mesmo...
Que devo eu?
Acompanhar-me de meu tesouro, presença forte que em mim habita: o que um dia foi visita em meu viver, hoje é esse calor que fumega em meu peito. Forte como a morte, quente como o fogo... arde sem se ver, impossível não querer. Uma vez experimentado, é igual fé, não mais teologia...
Fugiria eu?
Jamais, permitir-se está para a maioria, Barrabás também estava...

5 de fevereiro de 2010

Perdoando o amor


Perai! Vai com calma! To aprendendo a amar!
Perai! Tenha alma! To esperando perdoar...
Perai! Tenha pressa! Seu desatino me ensinou,
A ter pressa, bem e a bessa, pois o amor perdoou!

Perai! Vai com calma! Minha alma cansou...
Perai! Tenha pressa! O amor acordou!
Nos encantos, de ter alma, seu calor arrepia...
Perai! Tenha alma! Que a lua, alumia.

Ouça aqui, os apelos!
O amor quer amar..
Venha aqui, bem ligeiro!
Meu amor, vem me amar...

Venha cá, tenha pressa!
Vem depressa e fagueiro..
No amor, bem e a bessa!
O perdão vem ligeiro...

Anda aqui, olha longe!
Lá vem ele chegando...
O amor vem de longe
Repousar em seu canto!

Pertence a mim, somente a mim...
O desejo insistente!
Somente a mim, pertence a mim...
O amor da minha gente!

Ouça agora, ouça bem!
Sou insistente e persisto...
Te perdoo, te dou amor!
E não fazes mais isto...

Meu coração não consegue...
Não amar, não dar amor!
Tenha calma, tenha alma!
O amor acordou...

É só uma idéia!


É só uma idéia! Ou seria um desejo?
Desejo que virou idéia, idéia permeada por desejos, anseios misturados com alegrias, coisa parecida. Deve ser a correria, a gente sempre mistura tudo, igual liquidificador ligado no três, quando o dia imenda a noite em vendaval de soluções apressadas. É assim, dia após dia, mudança após tormenta, alegria após tristeza. Os acontecimentos precipitam-se como se do céu caissem, maravilhados com o prazer da alma a quem foram desposados. Enamorada e seduzida, dança a esposa, alegre em saber-se desejada pela felicidade, vertente da misericórdia.
Divino e humano, espiritual e palpável se misturam em dança compassada de versos, rimas, prosas, amor! Compromisso com o tempo, despretensão ao mundo, humanidade composta de erros vigiada pela sombra de seus próprios passos. É assim, passam as horas, os relógios me cobram o que eu tenho que fazer. É assim, as almas esperam o que posso em mim lhes estabelecer, perdidamente encantada com a longevidade de minhas palavras, minhas sabedorias, medidas consubstancialmente desnecessárias a sobrevida de Cristo, caso assim Ele o quisesse. É assim, que me seduziste, e não consigo lembrar de mim sem antes remeter-me a Ele.
E assim eu, humana infiel, por minha honra e minha palvra, emprego Nele, a felicidade Eterna, meu ser e vontade que me são próprios, e abro mão de meu futuro de honras lícitas e pompas louváveis. Eu, humana infiel, por minhas desonras e erros, meus enganos e tropeços, peço-Lhe no sim de cada dia a força para pepetuar seu coração na humanidade, que é Seu próprio coração.
É só um desejo.
Ou seria uma idéia?
Julgo, já virou vida...

27 de janeiro de 2010

Amadurecência


Olhar a vida.
Passar na vida.
Ser na vida.
É quando o que de mim aflora sofre a demora das decisões repensadas, reflexões desconformes ao ser infantil, coisa de adulto.
Alcançar o entendimento da graça silenciosa do pensar.
Abraçar o infinito dos meus pensamentos antigos, explorar seus espaços vazios, preenchê-los com meu presente vivente, desdobrá-los em sussurros ao vento, como palavras extraídas de pensamentos acertados, num quebra-cabeças lógico e inequívoco, por muito mal compreendido.
Chorar, chorar e chorar, pela graça do entendimento pretérito da graça remanejada ao futuro.
Sorrir, sorrir e sorrir, pela preterição de saber-se escolhida.
Agradecer uma vez, e mais, pelo nada, pelo tudo, que faz, desfaz e faz outra vez frente aos olhos.
Descompor defeitos, coração congelado no ser aprimorado e feliz, até o próximo desafio.
Desfazer conceitos, do novo interposto tempestivamente, na intempestividade de minhas acomodações, no desfalecer de minhas vergonhas.
Restar, viver as virtudes da sanidade aprimorada pelas belezas da criação pretérita de meu viver pensante, edificado nas ruínas do que hei de vencer.
Presentear, ao Doador da vida que emana de seu lado aberto, comunhão consanguínea de dor e amor, de filiação, com a carne viva do meu corpo, a sentir e ressentir as dores, os amores, amadurecimento de minhas consequências... Na guerra e na paz, sem mudar o que faz saber-me no rumo certo da vida desejada por todos os viventes: eternidade.
Olhar a vida.
Passar na vida.
Ser na vida.
Te Trago flores, nascidas do jardim dos atos meus.

Aquilo que é, já existia, e aquilo que há de ser, já existiu; Deus chama de novo o que passou. Eclesiastes 3, 15.