2 de abril de 2010

Confiança


Erupção.
O ímpeto saído de mim, como grito que ecoa em um infinito de consequências. Uma voz lá de dentro, anseosa por um passeio na ociosidade das memórias, póstumo furor de outros dias. Algo que de tão caro caiu no óscio do cuidado excessivo, primado essencialmente pelas cautelas do zelo.
Rugir.
Movimento ocasionado pelas incompreendidas demoras do ser, que se esconde como servo fiel de tamanho presente, preciosa ostentação de rara grandeza, defensável com a vida.
Ruir.
Frustração, que de esperar viver um futuro de sonhos e expectativas, esquece-se das vivências do tempo de hoje, abstendo-se de sentir, de SER fiel no propósito da cruz, mesmo que a ressurreição demore a amanhecer em mim. Esconder-me na chaga do sofrimento, conjugar em primeira pessoa as dores, derramar meu próprio sangue, sofrer, aceitar amar até doer, até ferir o orgulho, a vaidade, chegando ao ápice do egoísmo: o amor próprio. Deixar sair o pus, sangria de infelicidades... aceitar a loucura de um cálice proposto e beber solitária o vinho do humilhado.
Enlouquecer.
Chorar desvairadamente, chegar ao cúmulo de rolar ao chão, suplicar o auxílio do alto que parece não existir: sou eu, minha dor e o mundo a me esmagar. Chorar, desesperadamente, ao passo de sobrar soluços e faltar ar nas narinas. Silenciar os sons, os pensamentos, os sabores, os prazeres, as vidas, os desejos, as vontades, o ser. Morrer para minha existência: alcançando todas as definições do meu eu, e todas as suas potencialidades.
Empobrecer.
Viver as misérias do pobre, em todas as flexões e expressões da palavra. Rasgar minhas vestes, minhas inteligências, minhas verdades, sobretudo minhas mentiras, insuperáveis companheiras em reflexões. Perseguir despida pelas ladeiras do entendimento, como a louca desvairada do Reino, que de tanto errar encontrou-se com os acertos da vida, e lembrou-se do assoberbado cuidado, do bem zelado e não utilizado. Seria tarde para aprender todas as consequências de impregná-lo novamente em meu ser? Saberia eu bem fazê-lo?
Verbalizar.
Tornar à vida o que eu sou, sem mais esconder-me, como a presa de seu predador. Afinal, seria eu consolado ou consolador? Os dois. Criador e criatura. Obra prima e pintor. Criatura e Salvador... Mão a mão. Confiança e traição. Amor e perdão. Confiei no Teu amor e voltei! Sim, aqui é meu lugar... Vou errar sim, mas a retidão no coração superará as expectativas de uma vida tranquila. E quando nada mais restar, ninguém sobrar entre nós, a não ser as ruínas do que fui, permaneça em mim Teu olhar, que eu permanecerei em Ti, até o nada.

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