26 de dezembro de 2009

Análise do sofrimento



Entender motivos.
Descobrir razões.
Esses são fatores indispensáveis para assimilar a dor, pois a alegria, por si, se justifica no regozijo da tristeza antecedente.
Afinal, de que vale entristecer-se sem pensar um dia em alegrar-se?
Olha em volta, frustrar-se é a lei geral.
Outrossim, de que deriva o seguimento de esteriótipos criados na perfeição de vivências inexistentes? Torna-se, na prática, a vivência da novela das oito, das telinhas do aparelho de televisão.
Recria-se a imperfeição, clama-se pela perfeição.
Analisando o sofrimento, pude concluir que a frustração nasce da projeção do que é imperfeito na minha vida, mas poderia e deveria ser perfeito, a fim de trazer aos meus dias uma alegria cinematográfica, no tempo de minhas necessárias vaidades de felicidade.
O dolorido da alma. O dolorido do ser. É quando todas as teorias de dever ser aprendidas no catecismo da infância fazem tanto sentido quanto reviver as páginas empoeiradas do evangelho esquecido na sala de estar.
É quando me dou conta de que a vida ficou tão relativista, aceitando todos os senão tão bem interpostos e debatidos que perdeu o fio de ouro que a prendia na sanidade.
É quando reconheço que ser é tão gritante quanto saber o que por em prática.
Olha em volta, ser feliz é a lei geral.
Felicidade que é amarela, em dor que não tem cor.

22 de dezembro de 2009

Vocacional Alado


Saber de onde partir, e permanecer sem estar.
Saber recolher no horizonte o profano e diviniza-lo, humanizando as experiências e transformando em doação, de vida, de respostas.
Compor versos, alados e soltos, bordejantes e desejosos de sair da condição de silêncio, imposta pelos erros que os amarravam em prantos.
Correr os montes, saltar aos montes! Percorrer as estradas verdejantes e suntuosas da vida, recolhendo a matéria prima a ser trabalhada, modelada.
Compor canções que falem de amor e de saudade, em tons azuis, primariamente escolhidos em detidos detalhes de alegria amarela.
Compor vida, que fale de gente, de pés descalços, em solo santo, santificado pelo sangue, suor e lágrimas de quem nos precedeu.
Compor saudade, de sacrários vivos, de vontade de gente que é santa por natureza, provindo da vontade que emana dos seus corações de acertar, mesmo errando de vez por quando.
Compor vocação, provinda de um ruah, que emana das almas que conjugam um verbo uníssono, imutável e real, mas tão real, que é sensível sem ser palpável. Os olhos não viram, o coração jamais imaginou, os bens amados provindos de corações alegres e despojados em Deus, na graça, vida que vem e não passa.
Certos de onde chegar em futuro que virá, nem distante, nem próximo, nem quando, nem portanto... Futuro vindouro de mãos eternizadas, sacramentado nas vivências, tão distantes do Perfeito, tão próximas ao Eterno. Futuro, que dele não se sabe, mas Nele se espera, na certeza da sempre vida de nossas vidas, que se enlaçaram para não mais soltar-se, na suntuária humanização das nossas vivências, sacramento vivo do Eterno.
De um Luiz, que se desprendeu, de um Carvalho que se estendeu e deu sombra a quem de cansaço não sabia mais amar!
De vocações despertadas de almas cansadas, que renovadas se tornaram nas vivências de uma eternidade antecipada...
Aos corações valentes, por ser gente, que sabe amar!



Agradecimentos

Não há o que vá sem nada deixar
Não há o que ame sem se importar
Não há o que estenda uma mão, sem dar perdão
Não há o Divino sem o humano
Pois é em nossa humanidade que o Amor proporciona a graça
É na carne viva do meu corpo que minha alma se realiza.
É nos braços abertos do meu coração que te digo: muito obrigado por ser meu acompanhador, meu amigo.
Doador de vida, de alma, amor que se desdobra na graça de se pertencer eternamente, em laços perfeitos de amizade, prescrita nas estrelas de um céu azul anil.

Cântico Novo/Vocacional 2009 - Comunidade Recado - Fortaleza - Ceará.




"Muitos sofrem sem amor, nunca se sentiram amados,

Nunca olharam deslumbrados a beleza de uma flor.
Seus semblantes são sombrios, são sem brilho, são sem cor,
Nunca viram como é lindo o sol se pôr.
Mas o Amor é verdadeiro e muito forte.
Ele é bem maior que a vida e que a morte.
Ele cura o coração, faz o homem ser capaz
De enxergar, dentro de si, que existe a paz.
Pois a força do Amor é verdadeira,
O Amor alcança o céu e a terra inteira,
Faz o homem ser mais belo, o Amor é tão sincero,
Ele é grande e o Seu Nome é sempre Amor.
Seu Nome é Amor..."

Suely Façanha

17 de dezembro de 2009

Doce, doce, doce música


A música que não toca ressoa dentro de mim. O barulho da construção ao lado não me pertuba, mesmo em momento de grande concentração diária no trabalho. A melodia me convida a entrar no compasso de uma vida que desejo, porquanto o barco balança na tempestade. O inverno se aproxima, e meu corpo, marcado pelo sol do verão, que descasca e deixa marcas de um sol escaldante intercaladas com a candura de uma pele clara e sem manchas, prenúncio de um outono mal vivido. A pele descuidada de tanta exposição, não sabe mais como alcançar a plenitude de sua beleza. A alma encantada com os acordes de uma bela canção, devaneia em seus desejos, que se pertubam com tais encantos. Os desejos, por sua vez, enamoram-se da melodia, tão minuciosamente trabalhada em outra alma, que se derrama agora aos seus encantos deliciosamente.
A paz. Suave paz. Tão suave, que é sensível sem ser palpável. Engraçada essa mística que convida a saborear cada pedaço da vida como uma fruta saborosa e bem gelada num dia de calor. Sacio-me de minhas ignorâncias, reconhecidas desnecessárias para alcance da plenitude de uma sabedoria desconhecida: a espera paciente e amorosa. Escutar os absurdos, digeri-los de forma a separá-los dentro de mim o que é bom do ruim, como o nosso corpo separa as vitaminas do que não serve de alimento.
Dividir, o que eu sou, minhas verdades, do que o outro é em seu universo de verdade, e entender na sua verdade o que despeja no meu jardim, e retirar aquilo que eu não sou.
Sabedoria e justiça se misturam em atitudes escondidas em um pranto em soluços, nos pensamentos que insistentemente ressoam em minha razão.  Que prevaleça a primeira sobre a segunda....

Porque quando me sinto fraco, então é que sou forte. II Cor 12, 10

5 de dezembro de 2009

A lágrima

O sal da minha lágrima renova as esperanças que tenho de uma vida tranquila e sã. Me relembram que sou capaz de aceitar as consequências de minhas limitações e superá-las, com criatividade na vida. As frustrações de alcançar o que posso e não consigo me assombram, porquanto vida de outras vidas alcançam a minha de forma indesejável e descontrolada.
Frustração. Palavra de dificil pronúncia, ao menos pra mim, que tenho língua presa e me perco nos "r's" da vida. Simples conjugação, afinal frustrar-se é a lei geral, olha em volta. Vivemos esperando o amanhã, sem compreender que o hoje é nosso bem maior, tão belamente denominado presente. Sabemos, mas não assumimos a verdade que hoje posso mudar o mundo, começando pela louça de casa. E continuo a confabular meu amanhã, com tantos planos, tantas verdades que preciso viver, tantas coisas a realizar, tantos sonhos para acontecer. Confabulo, me perco e me encanto com as maravilhosas promessas de um futuro bom e por pouco me esqueço do que devo hoje fazer para que o amanhã um dia chegue.
Frustração. Que me rouba o sonho, que me desespera a esperança, que desfaz os planos e os torna enganos, e turva o olhar com pranto, que escorre na face e cai por terra. De repente, uma lágrima atravessa sorrateiramente o rosto, por caminho pensado, traçado, batalhado a cada centímetro da face e encontra os lábios. Seu sabor é indescritível. Sua intenção salvífica. E seu perseverar me asseguram: é hora de continuar, alçar vôo a outros campos, assumir ser você.

3 de dezembro de 2009

Soneto a Quatro Mãos

"Tudo de amor que existe em mim foi dado.
Tudo que fala em mim de amor foi dito.
Do nada em mim o amor fez o infinito
Que por muito tornou-me escravizado.
Tão pródigo de amor fiquei coitado
Tão fácil para amar fiquei proscrito.
Cada voto que fiz ergueu-se em grito
Contra o meu próprio dar demasiado.
Tenho dado de amor mais que coubesse
Nesse meu pobre coração humano
Desse eterno amor meu antes não desse.
Pois se por tanto dar me fiz engano
Melhor fora que desse e recebesse
Para viver da vida o amor sem dano."

Paulo Mendes Campos e Vinicius de Morais