11 de abril de 2017

Poesia

"Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens tem medo da luz." Platão

Os soluços e silêncios imbuídos ao desgastar do cansaço. O sono e a prece acostumam-se a não ter espaço, tendenciosos ao ócio de uma procura incessante de carinho e consolo, que ao lado encontra-se, mas o braço não consegue alcançar. Ocupa-se a mente do vazio, aprofundado na inobservância das possibilidades, e inspira-se na ignorância da soberba. 

A vaidade que aos berros grita a arrogância de sobrenomes e prenomes, pronomes assoviados em enfático sublinhar de coisa alguma, infladas na humilhação de se achar igual, sendo diferente. Errei. Deveria saber, sem pedigree nem teto, ou ainda chão embaixo dos pés. 

Arranhei os cotovelos, bati a testa e o remédio amargo a desfazer o desengano sussurra uma inflamação crônica de meu estômago frágil: é como estar debruçada na repugnância da roda viva que move os ponteiros e posições de cada peça, no imenso tabuleiro que movimenta-se segundo o bel prazer de alguns poucos pré-determinados.
Enquanto isso o mundo gira, gira, gira... 

O descompasso de meus enganos em revira-volta revolvem meus pensamentos a um vendaval de sensações, atordoadas pelo sentimento de fazer ou não a coisa certa. Mas, afinal, o certo existe mesmo? Como seria esse “agir corretamente”? Nem sei se busco ou não compreender esse fato, esse caso, mas é certo pensar que não tenho poder sobre as ações alheias. Sequer minhas ações condizem realmente com quem eu sou. Mas as minhas reações não reconheço como ditadas por um ser evoluído.


Vejo-me em lama, como areia movediça debato-me às sombras e choro, copiosamente choro, quando abraço quero, ignorância a tudo que se passa tenho. Tento entender, concisamente, mas para todos os lados só vejo cobranças, sobreditas cuidados ou exigências. Sufoco, perco, uma perda inalcançável dos dias que revolvem as passagens que atravessam a minha falta de tempo e me furtam a juventude. Insolúvel, revisto-me de certezas e esperanças em prece e prosa de que vai passar, pois tudo passa, eu sei. Eu creio. Tudo nessa vida passa. Mas viver de passagens é viver sem propósito.

Um tiro de pedra é a distância. Um tiro, uma pedra. Inteligência aqui, cabe não moço. Sempre recorri todo o meu intelecto em busca de respostas, mas envelhecer tá difícil. As infâncias mal resolvidas são insistentes em meu querer e sentir. As adolescências de insones são insolentes em perturbar a pacificadora estância atual. A paisagem é cotidiana, à deriva da rotina, a mim sempre pareceu invulgar. Rotina, segurança, sempre buscando o para sempre. Meus pés imóveis, como que colados em um mesmo lugar, repentinamente anseiam outras paisagens, e meu ser brinca de ver outras vistas. Sente cheiros, angaria motivos, como se precisasse: outra vida, outros interesses, não seus, nunca seus, constantemente encontram motivos de encontrar teu olhar, unicamente. E como uma cega, tateio teus arredores e mendigo as migalhas de teu amor jogado a mim, em pequenas porções de companhia, cega companhia, insone companhia, companhia.

7 de janeiro de 2014

O sol e a lua.

As mudanças só acontecem em mim por rupturas. Sangrias desatadas em feridas não cicatrizadas, matrizes da dor ora ressentida. O rumor do prazer em busca de uma felicidade plena, de uma maneira geral constrange e sabota meus sentidos e limites, sim, esses inexistem. Outra vez, o pranto em poema transmuta a face e lágrimas correm soltas na vertente de uma incessante busca de sabe-se lá o que, ou pra onde, ou quando, e os porquês embaralham-se em desculpas farpeadas em muros de solidão sem solidez, más companhias que desprezam o rugido do mundo e encontram fundamento em tempos de desejo de paz, guerra e amor. Fazendo a dor por hora que se desiste de insistir em desistir de insistir no instinto, pois o carnaval é uma vez ao ano e trazê-lo para fora de sua época traz transtornos irreversíveis e voltar no tempo não é opção. Resistir em torno de novas oportunidades de ser, expressar e esperando no insofrível em sofreguidão, mil venturas. Tirar-te de mim não permito, ainda. Apagar-te da mente não consigo. Inspiro-te em minha pele, no meu prazer e o nosso sabor consta ao fechar dos olhos. Imagino-te, te sigo e te amo te conecto e a ti suspiro em respiração conjunta, e no roncar de tuas insanidades me vejo no triste enlaçar de nossos desencontros. E passam, estações inteiras em tempos diferentes para nós dois, no verão de tuas instâncias e no inverno de minha paralisia, em caminhos insistentemente cruzados pelo querer de um e aceitação apática de outro, em momentos diferentes vice-versa. Se acaso querer confunde-se com aceitar, os dois verbos não precisariam de terminações em vez de conjugações. E verbalizando, persigo a sina que me deixou Deus de herança, na doença de pensar e repensar várias e várias vezes as mesmas palavras em sentidos diversos e infinitas flexões verbais sistematicamente afirmadas por duas razões, em emoções misturadas e confundidas por vários chãos e terras. Nuas e cruas são verdades extraídas do absolutismo de convenções sociais fincadas em minha mente e na minha pureza, cega de nascença e de límpida encontrou o turvo de teu olhar, com um coração cercado de arame farpado forjado num rodo cotidiano que arrasta as adversidades inexistentes e inconcebíveis para mim, tão tuas. E tudo em vice, no todo em verso, os olhares mesmo assim quando encontrados no amor misturaram-se num sentimento único e puro, simples, verdadeiro, mesmo que a língua verbalize o não, sabe-se o sim. Eu de cá, tu de lá, dias vazios, dias iguais. E espero, mais uma oportunidade de acertar, dessa vez, plantada na humilhação de teu desprezo.

30 de outubro de 2012

"Todas estas informações têm soberba desimportância científica — como andar de costas." (Manoel de Barros)

Paladar.
Sabor.
O gosto, a fruta.
Mordida, saboreada.
Provada.
Aprovada.
Regada.
Podada.
Cercada.
Cuidada.
Cansada.
Aprisionada.
Diluída, se foi de si.
De si procura, de si pergunta.
Onde foi que esqueceu-se de mim?
Palavras, apenas palavras.
Que juntas, misturadas.
Se coisifica, mistifica.
Conturba-se.
Conluio, de atar nós,
que merecem ser laços.

27 de agosto de 2012

É como um eterno buscar.
Pois desaprendeu a viver vivendo.
Vagueia,
passeia,
nos infinitos das razões.
Vai à caça proeminente,
olhos de águia,
coração de rocha.
Sequestra as emoções,
financia razões alheias.
Sabatina maturidades,
recolhe vaidades,
fantasia orgulhos.
Ajunta dossiês e mais dossiês,
de vergonhas inadmitidas.
E, ao deitar, confessa-se:
a saudade ainda supera tudo isso.
E das vontades de ponto final,
nascem vírgulas maturadas
no doce amargo da espera,
com cobertura de confiança.
Cuida passarinho,
cuida.
Vai que dá tempo,
se esconder do inverno.
Vai, alça vôo no verão de tuas passagens.
Passando estão os teus,
levanta o vôo dos prevenidos.
Não espera não, passarinho,
aguenta firme.
Vai voando que um dia,
um dia passarinho,
um dia,
um dia.

Um brinde

Uma taça.
Só mais um gole, por favor.
A espera alcança.
O que a memória, por zelo, deixou.
Caiu, ruiu.
Voltou em branco e preto.
Flash's de memórias póstumas,
Vivas em mim.
Ou no que desejo.
Seria apego a uma idéia,
Ou seria amor de verdade?
Saberás tu, saberei eu,
Se deveras admitir:
Que tu sem mim,
O tu e o eu,
eu sem mim,
o mim e o teu,
vivos em nós.