30 de maio de 2010

Lágrimas de diamante

Cumplicidade. Alcançada pelo desprendimento de si, sem motivação aparente. As renúncias são várias, de vários aspectos. Impetuosa, se interpõe ao caminho a dificuldade de vivê-las, adornada em embrulhos primorosos vindos em dias de solidão e abandono. Viver a recusa muitas vezes é excluir-se do convívio de raros, ou privar-se de objetivo de desejo sólido e lícito: abster de saciar-se com as delícias da vida. Que mal há? Nenhum. Vários.
Se abandono o abandono não abandono propósitos mas o que eu poderia ser em primazia de virtudes e potencialidades. Se despojo-me da privação sem esgotar todas as possibilidades de desprendimentos às minhas vergonhas, arroto a ignorância da auto-suficiência, não deixando a graça de Deus entrar para estancar o sangue que corre e me torna impuro, impureza trazida pelo meu olhar de condenação perpétua aos meus descuidos de outrora, minha falta de zelo com minha ingenuidade. É quando sinto uma força sobrenatural vir de onde não vejo, como que reafirmando a renúncia, os preceitos evangélicos como verdades inerentes a vida que não são impossíveis de ser vividos, e sim que preciso deles para então ter vida.
Linda. De olhos belos e tristes. Assim se apresenta o ser em minha frente. Seu coração, corrompido das concupiscencias de dias tão longínquos refletem em sua fronte a aflição em plena floração. De repente, lágrimas de diamante saltam dos olhos, desejosas de seguir seu rumo, sem interrupções. Já não sabia como pedir ou começar a clamar. Já não sabia mais quem era: desfigurou o presente, permeado em culpas passadas e desenterradas. A aflição tem disso: nunca vem sozinha, sempre se acompanha do pacote completo da agonia: perturbação, quem lhe perturbe, falta de tempo e algo que nos seja motivo de culpa indesculpável. Calar sugere omissão. Falar sugere perda. Colo sugere Deus.
É quando passa um filme dentro de mim, e todo o curral do meu restrito entendimento é aclarado pela luz do Amor. É quando a privação torna-se abandono e graça, de permear em outrém aquilo que eu mesma vivo, e se torna verdade tão forte que as entrelinhas do aconchego revelam a Cristo em mim e conseguem tirar o embaçado da vista do outro. A condenação mandou lembranças, pois não achou guarida no jardim de meus braços, que abraçam a criança que só quer reaprender a andar com as próprias pernas.

24 de maio de 2010

Porque esperar é preciso...

Anda, vai! Corre, infinito, avante! Suplico-te que se apresse sem mais demoras, ao infinito de meus dias... Completa minhas horas de sobrevida, para, por fim, reinar a felicidade de meus dias viventes futuros...
As promessas de dias melhores, o final feliz do escritor, feliz autor de rara beleza. Saber ser e esperar, na esperança de viver o que se espera ser... mas, e se o que eu espero não vier? Espera-se por algo, e se ele não chegar? Se a promessa não se cumprir? Haverão culpados? Restaram os questionamentos... Superabundou a graça...
Nadar contra a correnteza até o braço adormecer. Os músculos, porém, não são os mesmos do início da labuta: robusteceram-se na graça da perseverança. Desbravar alto mar, por vezes penso ir sozinha, e avanço em mar aberto por minhas próprias forças, tolinha... não dá um metro retroagi vários outros...
Permanecer, estando fiel atentamente a felicidade que se sobrevém, porém o coração permanece inerte: a vida como é levada não é suficientemente bastante. Algo grita, sussurra e paralisa a vista: a direção contrária da maré afetou meus movimentos porquanto na nuca ressoa o cansaço. É quando vejo aproximar-se um banco de areia, alucinadamente desejoso de desposar-me, para meu desfalecer.
Lembro-me dos dias de outrora. A solidão ensinou-me a repensar a vida, na perspectiva de agradecer a Deus pelos meus dias maus, com a solicitude e alegria inerentes a dias de festa. Em tudo dei graças, em tudo amei... Deixei sair de mim o que se esvaiu e nem sei direito porque guardava e apoderou-se de mim rara alegria de saber-me conhecida em todas as consequências. Em tudo dou graças, na esperança cega do vivente, sem querer que vire troca meu querer, como cobrança de dívida que não se tem a mim... Divino Humano que se entrega tem disso: ora ou outra quer recompensa do incompensável. É assim, cai a noite é assim, de dia prossegue como que cobrando do outro o que ele deve ser, por você ser também...
Seguir nos dias, humanizando a paciência, divinizando as demoras, sofrendo a espera, sem pressa: de ser fiel, mesmo se o que eu quero não o queira Deus. Quem sabe, nossas vontades um dia coincidam... Só assim, amei!