18 de junho de 2008

Permeando amor, semeando amizade!

Hoje sinto uma saudade imensa, mas uma saudade diferente, ao olhar para minha vida com um olhar diferente. De onde estava vi meu pai e minha irmã a conversarem enquanto iam me deixar na Recado, para ir ao meu retiro. Meu pai ficaria para ver a missa comigo, minha irmã, ia sair. Conversavam sobre coisas banais do nosso dia-a-dia, do cotidiano nacional, quando repentinamente me veio uma saudade imensurável de minha mãe. Saudade de debater as rotinas. Saudade de falar sobre o meu dia, ou até de não falar nada, mas teria sido mais um dia de vivência ao seu lado, sabendo que ela estaria ali, qualquer coisa. Ou ainda a projeção que me veio a mente de como ela reagiria ou qual seria o pensamento dela naquele momento sobre aquele assunto banal, que em nada acrescenta em nossa vida, mas que, naquele ponto, como família, somos iguais e comungamos das mesmas idéias e opiniões. Neste momento, chorei em silêncio, um choro contido e o interrompi, como sempre, meus devaneios para os meus não perceberem o meu sofrimento pela projeção de algo que não existiria mais, nunca mais. A verdade é que sempre sofri calada pela ausência da presença de minha mãe. Sempre achei meu sofrimento gota derramada no mar frente ao sofrimento de tantas pessoas que já encontrei na vida. Tantos medos, anseios não realizados, enfim, angústias suplicantes de atenção e pedidos clamorosos de auxílio, meu auxílio. A partir daí me sentia tão pequena, com um sofrimento que eu não tinha mais o direito de ter, pois ela já se foi mesmo. Mas aquele do meu amigo não, era real, palpável, solucionável, quem sabe eu poderia ajuda-lo. E acabava sempre por esquecer de mim mesma, e lembrando do outro. A verdade é que sempre fugi da verdade, me escondendo nos outros por qual eu passei na vida, quando sempre senti um enorme vazio, do que eu poderia ter vivido, do que eu poderia ter sentido, de quanto eu poderia ter amado, de como poderia ter sido diferente, e, ao mesmo momento me vem um sentimento de ter sido furtada a minha felicidade, pela ausência desses momentos que só existem em mim, onde, infelizmente, Deus não pode me dar uma segunda chance. Meu olhar se prende hoje ao passado, nos momentos em que fui intensamente amada como filha, e na ingratidão de nunca ter exposto um amor à minha mãe, até pela pouca idade não reconhecer a importância real que ela tinha na minha vida. Deus já me deu várias provas de sua misericórdia infinita, e, com todos esses pensamentos tortuosos, me sinto uma hipócrita e mal criada e agradecida ao pedi-lo que cuide bem do meu bem mais precioso: minha mãe, ao qual só descobri o real valor agora. Tudo o que sou, o que tenho e o que vou ser e será conquistado devo à formadora do meu caráter, da minha pessoa, mas, antes de tudo, à Deus. Hoje sei que a solidão que toma conta do meu ser e assola a minha vida é proveniente da ausência Dele, e da dela também, verdadeiramente em mim, me deixando ser amada. Fugir sempre foi muito fácil, até hoje. Não há mais para onde ir, lugares para me esconder de ti, Senhor. Tua luz clareia toda a minha mente, ando sem precisar tatear no jardim que para mim tu preparaste, mas insisto em me esconder no único lugar escuro, na caverna, ao lado da sombra. Finjo paralisia de meus membros, interpreto minha deficiência física, como uma bela atriz. Mas tu senhor, no auge de tua mansidão, de tua paciência vem me dizer que espera ansiosa a cura de minhas doenças, minhas mazelas, quando, por diversas vezes, em minhas falhas te agredi, mesmo pensando ser sem querer. So tenho em meu coração um sentimento, uma atitude neste instante: a de pedir perdão, pela minha pouca fé e, por muitas vezes, ausência dela, pois não encontro em mim outra maneira de escoimar minhas falhas, sempre as mesmas, sempre diferentes. Perdão por querer ser igual, quando Tu me preparaste e protegeu, desde sempre, para ser diferente. O Senhor me agraciou com a minha existência abençoada, sempre cercada de cuidados santos, e eu não faço prevalecer a Tua vontade. Ajudai-me Pai a cumprir os Teus desígnios, a ser luz para os meus, a ser mistério e alegria, cura e sabedoria, que eu consiga levar a Ti sem ao menos pronunciar o Teu nome. E perdão por sempre recair nas mesmas conversas de sempre, como desculpas para me afastar de Ti. Se não tenho tudo o que amo, amarei com todo o meu ser tudo o que o Senhor me deixou e me conceber em minha caminhada, para meus cuidados. Afastai-vos todos aqueles que me roubam de mim mesma. Se quiser se aproximar, que se aproxime, mas não venha para desrespeitar o amor que me faz amar. Não queira de mim aquilo que eu não posso dar, e nem me ofereça aquilo que é demais para mim receber. Aceite-me, por favor, como sou. Do contrário, melhor esvair nossa convivência. Aprendamos a viver as diferenças e a respeitar a integridade que vive no outro, permeando amor, semeando amizade! “Não é tua piedade a tua esperança, e a integridade da tua vida, a tua segurança?” Jó 4, 6.