4 de março de 2010

Cessar-fogo

Meu ser nunca esteve tão leve. Minhas limitações nunca pareceram tão desnecessárias. É como um cessar-fogo entre o que sou e o que quero ser. É como se ambas as vontades, tão contrárias por natureza, confluíssem em uma mesma direção. É como se meus desejos mais profundos de dever ser se instalassem em mim, ao passo que minhas consequências tem plena ciência do alcance de meus atos, e estes se transformam em flores ao invés da dureza dos espinhos. Lá, onde as tentações de refúgio tornaram-se acessórias para acolhimento do momentaneamente desnecessário perdão, da eminência, no encalço de meus dias. É, essa tal de solidão acompanhada, com nuances de Jesus me ajudando a desenhar o carinho da vida, o amor do cotidiano, os passos do viver...
Sinto-me não mais presa aos meus enganos, mas participante de uma graça que me é própria, livre de toda a maldade de meus intensos pesadelos: tristezas do ontem embuídas em partículas de culpa. Graça minha, engraçada pela liberdade de saber-se amada, nível extremamente compensador do ser cristão: é como quando após um longo e massacrante inverno a primavera seja tão primorosa, que o tormento vivido, apesar de fincado em meu ser, tenha valido a pena. É como quando o cobertor é tão quentinho, que o frio lá fora existe, mas nem importa mais: afinal, de que vale olhar o desamor, se dentro de mim existe amor?
Procurei em vão repostas para explicações coerentes e direitos meus. É, aprendi com a criança que ser feliz não é direito adquirido, mas força de vontade: alcançar o coração alheio não é aquisição, é virtude. Sozinho não se vive, tampouco feliz se é.
A verdade? Não sei. Na verdade, nem me interessa muito sabe, esse troço de ter razão? Aquela tal da racionalidade... Hoje aprendi a lição da minha vida: onde encontrei amor, encontrei a Cristo, e lá certamente darei risada e serei feliz, até o próximo Cristo encontrar-se ao que vive em mim...
Afinal, bom mesmo é doar-se! Deixando-se primeiro ser encontrado, para só então saber ao certo o que procuro... Sair de cima do muro, assumir postura, encarar olhares, escancarar os altares! É assim: que eu deixe só o bem que existe em mim... Pra sempre assim: vivendo em Cristo, e Ele em mim!