9 de novembro de 2011

Pedra no caminho


As frases se mostram em santos, e não passam de linhas, em amotoado de palavras com sentido e sem sentimento em mim. Não se demoram em suas intenções, não se prologam em virtudes, não se apoderam de minh'alma. Apenas passam, como uma bela paisagem na estrada que percorro "às carreiras". E essa pressa? Só Deus. Só Ele sabe as urgências que insistem em concorrer com a minha paz. Enquanto isso, as atitudes sem sentido irritam até o esgotar de toda a minha impaciência, visto que a paciência já se foi a muito tempo, como um teste ao qual sou fadada ao fracasso, sempre.
E o tempo. Castiga soberano e imponente todos os sonhos e projetos, sonhos meus. Passam dias, meses e estações inteiras, passando, passam. E me vejo em uma esteira, a ser levada pelas circunstâncias, ao invés de fazê-las acontecer, e até isso esqueço, na ciranda do viver. E até disso, não sinto mais sabor.
Acho que aconteceu: o desabor voltou. Não sinto prazer em nada. Esse perigo de não me reconhecer em minha criação, e não me reconhecer como criatura encaixada em nenhuma moldura posta, imposta ou proposta. E os perigos de não me reconhecer se mostram como monstrom do seriado da TV.
Assim, respiro não tão alivida, quando até Adélia diz: "Deus de vez em quando me tira a poesia: olho para uma pedra e vejo uma pedra".  Se para crer passamos pela descrença, descrendo, creio, mesmo que as minhas pedras sejam mais que beleza, alcancem o desastre de rolar montanha abaixo e insistem em atrapalhar todo o caminho.

8 de novembro de 2011

Quero a minha mãe.


Sabe, as mães deveriam durar para sempre. Sempre, para sempre, repito, sempre. Seus olhares cautelosos, sedosos, zelosos, a velar os sonos, os sonhos, os enganos. A cuidar das vestes, dos ciúmes, dos amores.
Mãe que é mãe é assim: patrimônio histórico da humanidade de um só. Paro por um minuto, olho e vejo o dito, analiso minuciosamente cada palavra: é muito egoísmo, meu Deus, prender uma vida a outra, com a pretensão de simplesmente ser servido de seus favores. Mas, é não menino. É bom demais ser mimado, cuidado, zelado. E essa falsa sensação de que o mundo todo piora com a sua ausência.
Passaram dias, meses, anos. Passou, tudo passa, menos a saudade.
Zelosa, percorro em mim as centelhas de vida que escorrem de minhas lembranças. Doces, doces recordações de um tempo em branco e preto, tempo este que colore de azul anil a esperança de dias melhores.
E passeia em mim a essência do amar, mas ainda enraizadas as pretensões infantis de permanência eterna do que se foi, de quem partiu. E se foi, na doce melancolia destes dias de outono, nas folhas caídas, no problemas mal resolvidos, nos assuntos inacabados lá está: seria melhor se estivesse aqui, penso eu, neste engano bom trazido pela sensação de proteção perdida.
O dia começa. O sol nasceu, mas do que vejo, sinto! A audácia dos encantos de permanecer de pé durante todo o dia, e adormecer feliz na noite, no perdão dos sinceros e contritos. E na vida, nos percalços, falto os ensaios das minhas esquetes, nas demoras de minhas perfeições. Mas igual Adélia, tem horas que vem tudo de fora, mas, na certeza da natureza de meus instintos, sei que na hora certa, o certo sei fazer, fazendo bem feito.

"Tinha vantagens não saber do inconsiente.
Vinha tudo de fora!
Maus pensamentos, tentações, desejos...
Contudo, ficar sabendo foi melhor.
Estou mais densa: tenho âncora.
Paro em pé por mais tempo.
De vez em quando, ainda fico oca.
O corpo hostil e Deus bravo, mas passa logo!
Como um pato sabe nadar sem saber,
sei sabendo que na hora "H" nado com desenvoltura...
Guardo sabedorias no almoxarifado".
* Adélia Prado.


30 de outubro de 2011

De volta ao início


Os começos. Passam desapercebidos por mim. Vão, como poeira e vento que passa, na estrada percorrida. Passam os livros iniciados, os programas começados, os passos. Passam, desapercebidos, passam.
Voam tempos, voam pensamentos. Olhar desatento é igual a chuva passageira: só se atém ao que quer, só molha onde não deve.
E assim passa: a palavra, o olhar. Passando, passou, e diante meus olhos, à beira da vida.
Quando vejo, estou no envolto, meio solto, de pontas desatadas.
De risonho, o presente se mostra com futuro, num passado desapercebido, num futuro prometido e cheio de vida, e de possibilidades.
Esse, não passou, graças a Deus!
Mas passou o dia, passou o verão, o inverno, o outono, a primavera, o verão... Passou.
Adormeceu o que devia, acordado está hoje o assunto presumido, do inverno na intenção, no verão exposto, como biquine guardado no fundo da gaveta.
E vejo: a prece apressando a pressa de ter. Ter, muito além de possuir, muito mais que adquirir. No âmago da existência: ser. Em extensões pretendidas, mas esquecido esteve o penar nas sórdidas entrelinhas dos inícios.
Por isso, é preciso voltar. Reorganizar as gavetas, olhar paulatinamente cada vão detalhe de um passado que carrega em si os entremeios de um presente, e as histórias de um futuro completo em saber-se percebido.
Inicio novamente o livro da vida. Dessa vez mais atenta, aos detalhes, aos meus detalhes, não mais em mim, mas dentro de mim.

20 de agosto de 2011

O amor quer falar


O amor quer falar, quer gritar, que ser, mas não pode.
O amor faz esforço, manda flores, faz biquinho.
O amor manda sinais, mas iludido se deitou.
Acalmou-se insone, pesadelos em claro...
O amor adoeceu.
Resistiu, desistiu, tornou a crer.
Persistiu, reagiu, adormeceu...
O amor mandou lembranças, renegou crenças, foi ser feliz!
Ah, o amor...
Nunca esqueceu, aquele que lhe deu alegrias e esperanças...
Por elas o amor voltou, no retrato que passou,
Em branco e preto,
No verde renasceu, em flor desabrochou,
Tornou-se jardim, abandono sem fim, à seus cuidados sim,
Faz favor.

5 de agosto de 2011

Esvaziar-se

As obras de Deus escorrem dentro de mim como a lágrima percorre a face até cair nos lábios. Alcança cada centímetro das expressões decorrentes do sentimento detido ao peito e expressado na temperança do olhar saudoso. Relembro, com graça e maestria, os poemas com que outrora me embriaguei e percebi: essa sou eu.
Passa além de mim essa consciência incompreendida, essa sensação revel ao mundo, constante em querer um pouco mais. Exige-se muito mais, quereres além mar...
Esses desejos de constantes transmutam em fascínio pela arte e do que dela se desprende. E prossigo, no prodigioso labor do poeta: entregar respostas às perguntas da alma. Decerto, a filosofia da alma transcende o natural saber e querer razão, só se compreende peças de uma natureza infinita em possibilidades ñum quebra-cabeças que sempre faltam algumas peças.
E prossigo, num encanto saboroso, maravilhada por essa magia de decifrar os sentimentos que a própria razão desconhece.

"Louvado seja Deus, meu Senhor
Por que meu coração está cortado a lâmina
Mas sorrio no espelho ao que
À revelia de tudo se promete;
Por que sou desgraçado
como um homem tangido para a forca,
Mas me lembro de uma noite na roça
O luar nos legumes e um grilo
Minha sombra na parede.

Louvado sejas por que eu quero pecar
contra o afinal sítio aprazível dos mortos,
Violar as tumbas com o arranhão das unhas,
Mas vejo a tua cabeça pendida
e escuto o galo cantar
Três vezes em meu socorro.

Louvado sejas, porque a vida é horrível
Porque mais é o tempo que eu passo
Recolhendo os despojos
- velho ao fim de uma gerra como uma cabra -
Mas limpo os olhos e o muco de meu nariz
Por um canteiro de grama.

Louvado sejas por que eu quero morrer, mas tenho medo
E insisto em esperar o prometido

Uma vez quando eu era menino
Abri a porta de noite
A horta estava branca de luar
E acreditei, sem nenhum sofrimento:
LOUVADO SEJAS!!!!"
*Bendito, Adélia Prado.

2 de agosto de 2011

Toda palavra sangra


O meu coração sangra.

Chora de saudade de sentimentos que nunca viveu. Tem ânsias de causas, coisas, vivências, próprias de suas inseguras transgressões. Imagina, sonha, viaja por terras desconhecidas, outras paragens, sempre desejadas, sempre perdoadas.
De vez em dor e grão.
Paixão.
Coração que sangra de saudade.
Toda palavra sangra.
Saudade de cor, saudade de amor, sentimentos verdadeiros que brotam como flores em início de primavera: a espera alcança a esperança dos sacrifícios da virtude.
A humanidade reclama, quer fazer valer suas regalias, direitos advindos do livre arbítrio.
O coração ressoa as vicissitudes.
Que quero eu?
Que devo eu?
Que faço eu?
Nada.
Continuo a seguir meu caminho constante:
ora sim,
ora nem tanto,
ora sonhando,
ora acordando,
ora pisando firme,
ora cambaleando...
Ora acertando,
Ora errando.
De hora em hora,
Minuto por minuto,
Constância e relevância
Sacrifícios.
Alegrias! Ah, sim... muitas alegrias!
E ficou.
Alegria ressoou.
Perdoou.
Pacientemente acordou de um sono profundo... profundo como a fé.
Escarneceu sem dó nem piedade a pobre agonia, que saiu desconfiada.
Percorri todos os caminhos,
Cheguei aqui à pé.
Em todo momento, inteira.
Em todo instante, verdadeira.       
Pois é na verdade de minhas demoras que permaneço de pé, sobre toda circunstância, e nenhum medo ou vaidade poderá carregar de mim o sentimento de ser de Deus.
E busco.
E percorro.
As instâncias,
as ânsias,
na calma da alma que espera,
com a paciência de um amante.
Que se delonga,
Como um artista à sua obra.
Que se redime.
Como um povo aos pés da Cruz.

“Buscai primeiro o Reino de Deus e a Sua Justiça.. e tudo o mais vos será acrescentado.”

20 de julho de 2011

Sempre serei teu amigo!



Hoje, dia do amigo. Abri a página inicial do meu msn, logo após olhar meus emails e vi a seguinte mensagem: "Hoje: dia do amigo! Você é um bom amigo ou só um amigo superficial? Faça o teste!" Isso instigou-me, não pelo teste, mas por um teste ter a capacidade de definir a essência do que desdobra-se a partir do meu doar. Não, não acredito que meros "sim" e "não" tenham a capacidade de discernir meus sinceros sorrisos, abraços, súplicas, carinhos, segredos, surdinas, a cumplicidade partilhada entre os meus e quem Deus me deu aos cuidados.
Bom, em sendo hoje o dia do amigo, que pensava ser na segunda-feira a bem da verdade, a superficialidade delatada pelo teste me acreditou novamente, me recolocou em meu lugar na vida dos meus: nunca fui muito de parar nas estatísticas, sempre tenho que conferir suas origens para me sentir segura das decisões que tomo na vida. Superficial? Não acredito. Não creio que uma amizade tenha a capacidade de ser superficial, pelo menos não as minhas amizades, meus amigos, visto que meu eu não se aquieta em plenos horizontes, sempre busca as escaladas dos picos mais altos.
As orações que se desprendem de meu coração exultam de alegria pela dádiva que hoje consigo vislumbrar de minhas percepções. O desenrolar das desenvoltas partilhas de vida, esperançando em mim as vivências de um passado rico de emoções, um presente contagiado de alegria e um futuro repleto de possibilidades... Meus amigos o sabem bem o que são pra mim, nas infinitas escavações que fazemos de nossas esperanças, sonhos, compartilhando o amor que é semeado em nós, por nós! A todos os meus amigos, FELIZ NOSSO DIA hoje, sempre e eternamente!

"Não vou te deixar, vou te amar! Estarei sempre contigo! Seja inverno ou verão, alegra o teu coração, serei o teu abrigo! Cada lágrima que cai, fortalece-nos mais, sempre serei teu amigo!"
*Walmir Alencar.

9 de julho de 2011

Plié


Sempre quis ser bailarina. O modo como elas passeiam pelo palco, quase sem tocar o chão sempre me fascinou. É como um passeio só pelas coisas boas da vida, na encarnação da alegria pura e simples. Toda a idéia de estréia, glamour e simplicidade com que desempenham seus papéis, a leveza e sutileza de seus detalhes, e firmeza de seus passos me levam a sonhar com o céu. Sabe, aquelas coisas que tem cheiro e força de te carregar para longe de tudo, onde nada nem ninguém tem o poder de te alcançar.
Na infância tentei fazer ballet mas tudo era muito maçante, muito sacrifício, dor. Lembro que dada feita o professor sentou em cima de mim para que eu pudesse ter elasticidade, própria das bailarinas, e chorei, chorei, chorei, pois doeu consideravelmente e nunca fui muito amiga da dor: no mínimo sinal de sacrifício, gritava pela minha mãe, que sempre me socorria. Lembro reticente do escandâlo que ela fez com o professor, e o que provavelmente ela deva ter me dito à época: você é frágil demais, e esses professores não respeitam, fazem de tudo para as alunas aprenderem.
Percorro os espaços da minha mente, e meu coração divaga pelas possibilidades de minhas demoras. Meus verbos em tempos diferentes se acomodam em meus pensamentos, e me levam a olhar os avessos das vitórias. Pesar que os louros são colhidos após os ensaios intermináveis e os gelos nos pés cansados. Ser bailarina sempre foi um sonho, o caminho é que desistiu em mim: era coisa demais para coisa de menos. As minhas infâncias não me permitiam enxergar além sofrimento, além dor. Meus conceitos de prematuros não renasceram em flor, rosa que desabrocha na primavera, preferiram ser abortados na calada da noite, como sonhos impróprios e evasivos. Assim, vejo muito em minha vida: desisto fácil do difícil, e o que demora não se demora em mim.
Assim, recolhi em meu ser a significância das minhas importâncias. Decerto, renovei em mim as verdades que me impulsionam na vida: as pessoas, os desejos, os amores, os objetivos... Demoro-me em perceber quem sou e o que quero para não perder mais tempo no que admiro, mas não me serve. Como com o ballet: a beleza de seus encantos cegou-me para as minhas aptidões e dons, minhas ânsias pela vida. Soubesse de pequena o que ser quando grande, grande seria quando pequena fui. Assim, recolho de meus pensamentos o que quero impulsionar e apaixonar-me na vida: amante virarei de meus encantos, meus sonhos, seduzida pelos olhos Daquele que me olha. E recolho, paulatinamente, as inconstâncias do ser, ser pra sempre.

27 de março de 2011

Lectio Divinae

A mulher sou eu. A que vai, a que chega. Essa  mulher que Jesus convida a tomar de sua água viva, e viver uma vida de santidade. A beleza dos versículos narrados pelo Evangelista trazem o movimento das consequências de Jesus. A leveza de seu olhar, os desdobramentos de seu ser. Jesus que de início me convida a ser, e, mais adiante, inebriada por seu amor, me impulsiona a realizar, a verbalizar a vida, a trazer cor, a ir.
Do Evangelho deste domingo destaco dois pontos principais, dois fatores dessa história que me saltam ao coração este instante: a samaritana, que  acreditou e fez acreditar, e os samaritanos que, acreditando primeiramente na mulher, buscaram conhecer Jesus e, por fim, creram Nele. Disto, separo. Mais adiante, em Lucas 10, 30 - 37 (Passagem do bom Samaritano), Jesus nos dá o exemplo fidedígno do que vem a ser o nosso próximo que precisamos amar como a nós mesmos. Mas ainda, nos dá palavras de ordem ao proclamar: "vai e faze tu o mesmo". Disto, depreende-se o ensinamento: se queres ter misericórdia, sede misericordiosos, com atos de fé concretos e sensíveis na vida do próximo.
Em mim hoje os Evangelhos aqui explanados se encontram, se enlaçam. Alcançam as profundezas, o rudimentar amor ao serviço que Deus nos chama a viver: o amor cotidiano, que nos convida a amar sem medidas até as pedras da calçada que pisamos, pois é solo feito por mãos de trabalhador que suou para que o chão se transformasse em calçada, para a arte da vida celebrarmos a riqueza de não sermos sozinhos. Ora, Jesus cerca-me, abre-me a vista, fala-me do que tenho feito e me diz maravilhas e promessas por Seu Nome. Então, me sinto movida a proclamá-lo e trazer outros corações para conhecer meu Sumo Bem, onde, primeiramente pelo que eu vivo, depois pela sua própria experiência viver em Jesus as coisas e causas de Sua vida, e abraçar ou não Sua causa, Seu amor a desdobrar-se continuamente pela Terra inteira.
Atino-me ainda ao fato de Jesus não ter escolhido qualquer cidade para abordar ao poço, mas escolheu a Samaria. Julgo que Ele queria seus Bons Samaritanos próximos a Ele, os seus bons irmãos, suas boas pessoas, a crerem ainda com mais concretude em um Deus acima da legalidade que pairava na religião à época. Jesus quis santificar o que já era bom. Trouxe direção, trouxe sentido, trouxe o Céu para aqueles que já praticavam o amor, mas precisavam olhar para o Céu, e mirá-lo não como impossibilidade, mas por misericórdia de ser esses que trazem o movimento ao amor.
De tudo, realiza-se em mim uma obra de conversão do desdobrar de meus conceitos. De fato, como a mulher que proclama as maravilhas de Deus, devo zelar e cuidar do que Deus confiou aos meus cuidados pois, antes de dar a conhecer Jesus, exponho e me dou a conhecer. Que me ser Senhor sempre prenda-se à Tua graça ao Te exaltar. Que Tua face sempre encubra as minhas misérias e eu consiga ser em fidelidade a tua anunciadora, como a mulher do poço de Jacó. Que meu passado não tenha peso sobre as minhas circunstâncias, mas que minha vontade de santidade sobreponha-se as minhas feridas e vença meu cansaço de ser santa. E que a minha vida seja em Ti caminho, pois as pessoas dessa estrada que construo precisam do Teu amor para curar suas feridas, e recordar de que são preciosas para si mesmas e para Ti, amém.

20 de março de 2011

Nostalgie..

Nostalgie.
Busco interesses. Recuso ligações. Os temores tomam forma, a mesma forma que eu rezava para que não atingissem. Pena, a maioridade independende da vontade dos pais em não querer que os filhos cresçam. Meu querer em pouco interveio, afinal, de que vale deter o crescimento da grama no jardim? Ela sempre cresce, a poda é que fica menos ou mais intensa ao longo das estações ou da desenvolta preguiça.
Sinto-me como uma egoísta, avarenta, aquelas que sempre quer ter vantagem sobre tudo. Ao mesmo passo em que esse desejo encontra-se intrínseco e passou, como um mal presságio. De novo, só existe dentro de mim.
Acho que os poetas sofrem mais. Os artistas são natos desarranjadores das evidências. Sensíveis por completo, se tornam visíveis intocáveis para evitar a mágoa do transtorno certo da decisão incerta. De fato, em brincadeira de gato e rato hora eles ficam face a face. E continuam a desmentir o caso ao acaso, sobrepondo reticências ao que grita por finais, não como decisão de uma vida inteira, pois a vida é sempre infinitamente maior, e carece de resultados finais para novos começos.
Acontecendo, acontece. E passa graça, passa oportunidade. Passa amor, passa. Tudo passa. E a nostálgica lembrança de que no passado tudo se resolveu passando, e até isso passou. Que bom! Vai passar, vai passar, eu sei. É tudo que eu sei.
E até isso passa.

"Além do mais quem busca nunca é indeciso..."

28 de fevereiro de 2011

Fascínio

O que me fascina em Jesus é esse poder que Ele tem de atravessar gerações, destruir distâncias, encurtar caminhos, como quem caminha de manhã à beira do mar, sem nada esperar. Olhá-lo me faz reavivar os desejos mais sinceros de uma alma. Traz a bondade aos meus olhos, salta à pupila o desejo de verdade, de respirar e expirar sinceridade em cada centelha dos meus dias.

O que me fascina em ser cristão é esse poder conferido de resgatar uma vida despretenciosamente, somente preocupando-se em estender a mão, a fé que, mesmo pouca, dá pra todo mundo. Jesus sempre multiplicando peixes de alegria desdobrada em simplesmente estarmos vivos e dispostos a viver, mesmo nos vacilos. Essa graça derramada cotidianamente, nas sobrevidas que restaram pelos confetes no chão. A festa passa, o holoforte se apaga. A única luz a reluzir será a interior, que somente eu terei o poder de apagá-la ou fazê-la iluminar, em cima da mesa ou debaixo dela.

Em tudo, vemos que se não temos amor, de nada vale, de nada temos a esperar, em nada temos a depositar esperanças, sonhos... Em nada. Mas, basta um olhar para reacender o que em mim espera.

Cotidiano. Estamos eu e meu Deus, que cuida de mim, como Pai atento a todas as necessidades. Vejo que minhas eivas tem importância sim, se as utilizo de matéria para alavancar a mudança que preciso ver acontecer em mim, na sincera continuidade da minha oração.

8 de fevereiro de 2011

Bem mais

Meu Deus, me cura de ser grande.. me faz uma eterna aprendiz de teus encantos, encontros, a viver de nostalgias, labor dos poetas...
Me cura desses conceitos instintivamente criados pela falsa sapiência das razões precedentes.
Te peço, me cura do medo do novo, dos sentimentos que em mim nunca afluiram.
Me cura dessa terrível meticulosidade sobre todas as coisas, em todas as coisas, por todas as coisas.
Me traz a beleza da infância, retoma meus pensamentos ao principio da esperança, na criação dos sentimentos, em sua essência prima.
A pureza em seu diamante bruto, nas encostas das cavernas, de descobertas inintelegíveis.
Me cura esse insistir em antigo, esse desalento ao novo ser, o apego ao que em Ti não vigora.
O vento sopra.
Mais que vejo, sinto.
Mais que insisto, permito.
Mais que pelejo, me deixo.
Mais que perdão, amor.
Por fim, compreendo.
Mais que amo, sou...

20 de janeiro de 2011

Ato



Ato.
O movimento que me leva a trazer vida aos devaneios insondáveis da minha alma, até então, meros desconhecidos. Meus conhecimentos internos de apreço arredio aos meus intentos mais sinceros.
Constância.
Linha tênue de ser e dever ser, que carregam consigo toda uma história.
Trazer movimento ao sentido.
Razão de ser da existência, amar é a arte de atribuir sentido. Trazer ao gesto da razão a emoção da alma.
Carregar ao passo o compasso das batidas do peito. Transmutar sensações em intenções percebidas.
Verbalizar.
Conjugar as realidades que se diz vividas, se mostram em seus sinais carregados de direção. As perdas são inúmeras, mas nunca é tarde para lembrar que renunciar-se é um ato encharcado de significações, e não encerra-se em si mesmo. Aliás, computa-se perdas em que parâmetro?
Quando se muda de direção, o ponto de chegada deve ser a variável de correto alinhamento das razões.
Ato.
É nele que carregamos de vida as intenções da alma, ou não.

5 de janeiro de 2011

Cotidiano.

Gostaria, meu bom Deus, de ter as respostas certas e polidas para este homem. Mas, pera lá, pérolas aos porcos também é desperdício... Como, então, não restar em meus atos a omissão diante de Tua rara e sempre beleza? Sempre e constantemente urgem súplicas de incompreensíveis transgressões ao universo do Sagrado, Divindade jogada aos esgotos, desapercebida heresia cotidiana. E o menino sorri, com a graça de um recém nascido, as ânsias de uma mãe que precisa voltar a trabalhar, na minha mente inquieta. Ainda faltam muitos dias, mas voando se vão os anos, quanto mais vinte e quatro horas de uma vida inteira... E continuam a verbalizar as contravenções ao meu Divino. O outro diz que aceitou Jesus, mas o primeiro é um insistente Tomé: somente lhe salta à pupila os ganhos humanos, e não crê além da montanha dos interesses financeiros, a não ser que o próprio Cristo reencarne mais uma vez e faça tudo outra vez, por suas próprias mãos. Além do horizonte, eu sei, existe um lugar. E me basta. Bastará para ele? Morrerei sem saber. Aliás, saiu da sala, com a graça de meu bom Deus. Os outros abriram a questão. O irmão desistiu, calou. Deve ter entendido minhas palavras de aceitação do Evangelho ou nada, ou então meu silencioso olhar de “não jogue pérolas aos porcos, não minimize uma graça tão sobre-humana” para ele, penalizada e agradecida a Deus por ser tão fiel ao seu chamado. E continuei, na tela do computador, vistas, olhares, percepções desavisadas de aclamados “sim” e “não” ao Criador do mundo. Senhor, perdoa-lhes, eles não sabem o que dizem... Porventura, dão graças a Deus em cada benção percebida. Não seria reconhecimento da Tua existência? Afinal, já dizia o poeta: “em cascalhos disformes e estranhos, diamantes sobrevivem solitários.” Afinal, o que muda é tão e simplesmente a denominação do sentimento que arremata o coração, nomenclaturas vãs de lugar algum além da mente humana.