9 de julho de 2011

Plié


Sempre quis ser bailarina. O modo como elas passeiam pelo palco, quase sem tocar o chão sempre me fascinou. É como um passeio só pelas coisas boas da vida, na encarnação da alegria pura e simples. Toda a idéia de estréia, glamour e simplicidade com que desempenham seus papéis, a leveza e sutileza de seus detalhes, e firmeza de seus passos me levam a sonhar com o céu. Sabe, aquelas coisas que tem cheiro e força de te carregar para longe de tudo, onde nada nem ninguém tem o poder de te alcançar.
Na infância tentei fazer ballet mas tudo era muito maçante, muito sacrifício, dor. Lembro que dada feita o professor sentou em cima de mim para que eu pudesse ter elasticidade, própria das bailarinas, e chorei, chorei, chorei, pois doeu consideravelmente e nunca fui muito amiga da dor: no mínimo sinal de sacrifício, gritava pela minha mãe, que sempre me socorria. Lembro reticente do escandâlo que ela fez com o professor, e o que provavelmente ela deva ter me dito à época: você é frágil demais, e esses professores não respeitam, fazem de tudo para as alunas aprenderem.
Percorro os espaços da minha mente, e meu coração divaga pelas possibilidades de minhas demoras. Meus verbos em tempos diferentes se acomodam em meus pensamentos, e me levam a olhar os avessos das vitórias. Pesar que os louros são colhidos após os ensaios intermináveis e os gelos nos pés cansados. Ser bailarina sempre foi um sonho, o caminho é que desistiu em mim: era coisa demais para coisa de menos. As minhas infâncias não me permitiam enxergar além sofrimento, além dor. Meus conceitos de prematuros não renasceram em flor, rosa que desabrocha na primavera, preferiram ser abortados na calada da noite, como sonhos impróprios e evasivos. Assim, vejo muito em minha vida: desisto fácil do difícil, e o que demora não se demora em mim.
Assim, recolhi em meu ser a significância das minhas importâncias. Decerto, renovei em mim as verdades que me impulsionam na vida: as pessoas, os desejos, os amores, os objetivos... Demoro-me em perceber quem sou e o que quero para não perder mais tempo no que admiro, mas não me serve. Como com o ballet: a beleza de seus encantos cegou-me para as minhas aptidões e dons, minhas ânsias pela vida. Soubesse de pequena o que ser quando grande, grande seria quando pequena fui. Assim, recolho de meus pensamentos o que quero impulsionar e apaixonar-me na vida: amante virarei de meus encantos, meus sonhos, seduzida pelos olhos Daquele que me olha. E recolho, paulatinamente, as inconstâncias do ser, ser pra sempre.

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