28 de novembro de 2009

Aconchego...


Olhando-te sem medo
Agora posso ver
Minha vida, os meus planos
Em Ti preciso esquecer
Tua voz me traz encanto
O doce espírito me inspira
A te louvar em cantos
Ó doce Maria

Pequena sou, em Ti me refaço
Quando me acolhes em Teu regaço
Teu ser humana me refaz
Na Divindade me compraz
Para sempre, para sempre
Aponta-me o Céu, rebaixa-me o véu
Adormeço, em Teu seio descanso
Enquanto
Da vida possa esquecer e reviver
Tua vida, Tua graça
Teu amor que não passa.

Lucas 1, 39 - 45

16 de novembro de 2009

São Marcos 5, 21-34.



Rastejar ou andar.
Caminhar ou correr.
Andar ou voar!
Agir conforme se deseja, desejar além do que se cumpre em meus atos.
Vendo essa imagem, fiquei fascinada por cada detalhe que ela representa. A mão que tenta alcançar o que está próximo, nenhum rosto comungando do desesperado ato da mulher, que rasteja suplicante por ao menos tocar a barra da vestimenta Daquele que a precedeu, e por algum motivo a fazia crer em cura ao incurável. Algumas mãos, em contraposição a suas interpelações e desprezando seus sentimentos, tentavam detê-la de ultrapassar toda e quaisquer razão dominante de seus pensamentos, que a desacreditaram de uma vida digna e compatível com os desejos de seu coração, como comunicar-se com outros, conviver com os de sua descendência, seu metiê, ou, simplesmente, ir ao templo, chorar suas lástimas e alegrias com seu Deus.
Em seu rosto, afigura-se sua história. Em seu rosto, estampada está a agonia da crença no impossível, esgotando todas as impossíveis e desesperadas possibilidades de restaurar sua dignidade. O sangue escorrido, a doença incurável, em nada doíam na mulher, julgo eu. Seu rosto expira insatisfação pela  imposta condição de indignidade adquirida, pelo encontro insuperável de seu ser com um mal, que não desejou, tampouco procurou, mas sofre por muitos anos.
Sempre à margem, sempre nas beiradas. Desfez-se de tudo o que possuía, inclusive do seu amor próprio, sua subjetividade, seu ser pessoa, sua humanidade.
Ela rastejava. Optou por rastejar, afinal, seu problema de saúde não lhe paralisava os membros do corpo, aliás era invisível. Somente seu odor a entregavam, e seus sentimentos de culpa.
Paralisada, estática, suplicante.
Almejava alcançar, com seu brilho no olhar e seus esforços múltiplos, rastejando à Aquele que admirava por seus feitos e acreditava, tinha fé que olharia para sua pobre condição humana e saberia o que fazer. De repente, a pergunta: "Quem me tocou?", seguida da interpérie de seu discipulo, ao dizer tantos Mestre, te tocaram e tocam este instante. Não entendeste ainda, que arrastas multidões?
Mas o Cristo não precisava da multidão, ele precisava da fé. Ora, a multidão de nada importava aquele instante, em que uma força sobrenatural emanava de seu ser. Jesus sabia, mas precisava que, com o poder já despojado na mulher voltasse à Ele, em enlace perfeito de sua pertença a Deus. Seu reconhecimento do sopro de vida, o resgate de sua dignidade com filha do Alto.
Ainda tímida, rastejante, suplicante, responde "Eu Senhor, fui eu."
Como reconhecimento de sua dignidade, revestindo-se de sua humanidade, restaurando o seu amor-próprio, Cristo bem sabia que ia além de simplesmente cura-la de uma doença, pois sua enfermidade maior estava impregnada em sua alma. O evangelho fala que uma força incomum saiu do Cristo, onde o verbo da vida conjugou-se em outro corpo, desdobrando-se nas maravilhas de Jesus até os dias de hoje.
Não tenho conhecimento de quantos se sentem tocados por este lindo evangelho, que mistifica o poder de Deus existente no Cristo pelos tempos. Tampouco tenho ciência de quantas pessoas alcançaram a cura somente em ler essas linhas e entrelinhas. Hoje, limito-me a seguinte observação: se não consigo andar, que eu rasteje em direção a Aquele que pode me salvar, com a fé Naquele que não vejo, abraçando o infinito escondido na sombra de meus atos.

13 de novembro de 2009

Menina, Mulher!


Menina.
Mulher.
Criança.
Adulta.
Pessoa.
Humana.
Razão.
Emoção.
Sentimento.
Borboleando pelas maravilhas de meu Cristo.
Misturando-me a sua essência.
Vislumbrando seus prazeres.
Distribuindo seus amores.
Descobrindo seu viver.
Revivendo o seu ser.
Desdobrando seus caminhos.
Impulsionada por seus carinhos.
Aflora em mim novo dia.
A voar em sintonia.
Com todo Céu, em harmonia.
Linda paisagem azul anil.
E repousar em seu colo.
Para aprender o que imploro.
A vida, sua graça, seu amor, que não passa!

8 de novembro de 2009

Apaixonada

Apaixonada.

Nunca havia me sentido dessa forma em outro momento qualquer.
Sempre me envolvo completamente, com todo o meu ser no que acredito, mas dessa vez é diferente.
Notável e considerável engano em acreditar que outrora apaixonei-me como hoje.
Estranha sensação de saber-me conhecida, em todas as minhas consequências.
Conhecer-me inteiramente, em capacidades e incapacidades que mudam em um segundo, pranto em sorriso, palidez em alegria, estupidez em lucidez, altivez em sabedoria.
Apaixonada.
Com todas as forças estranhas que rugem dentro de mim, que não enxergo, mas sinto e vejo desejosas de expansão.
Como extrair desejos? Como expandir vontades? Como espalhar amor?
Seria engano a vivência da paixão pelo desconhecido?
Que nada! Esperar pra que mesmo? O futuro começa no presente, o passado é branco e preto.
Apaixonada.
Sem mais precisar arrumar desculpas para me sentir assim.
Sem mais buscar explicações sempre tão necessárias ao que nasce como primavera, frente aos meus olhos interiores.
Um eterno buscar, um eterno amar, que não cabe mais dentro de mim.
Como bem vivê-lo? Como expandi-lo?
Explicar, não sei. Tampouco pensei algum dia viver esse amor, bem como sonhei senti-lo.
Agora é fato, palpável ao sentimento. O que fazer então?
Apaixonada que não sabe amar, Amor apaixonado.
Amor que esgota todas as minhas possibilidades de futuro e acredita que sou capaz de transpassar meu pobre coração, castiga-lo por tanto tempo de aprisionamento em meus desejos.
Apaixonada.
Por Cristo e suas consequências, de Cruz, de Ressurreição.

3 de novembro de 2009

Vertigem


Chorar.
Ofício reconstrutor.
Chorar desesperadamente, como que descobrindo em cada lágrima o caminho perdido.
Já escorre em face por terra, não há mais como controlar, não há como negar sua existência.
Sentimento de renovação.
Sentindo, a vergonha do suor do olhar, cansado de tanto exercício que forçava o seu sorriso sem pranto.
Extirpar, do cerne, a existência do que não sei e confiar.
Deixar-me consolar, em misericordioso pranto escondido, expostos soluços de solidão acompanhada.
Concordar, com cada letra da palavra não dita, com cada suspiro da respiração do meu Amado, sentida na face do consolo, como benção advinda da entrega diária.
Refúgio, escancarado pelo abandono das vergonhas, amparado pelo olhar que vem do alto, escoimando as culpas, enraizando as certezas de uma pertença irrevogável, que perpassa a experiência do querer.
Chorar.
Deixando o Salvador salvar, deixando o Amor amar, deixando o Criador restaurar, a alma que de tantas reformas perdeu no tempo o rastro da sua essência.
Cristo passeou lépido e fagueiro, atento, analisando minuciosamente por onde começar a reforma.
Chorar.
Como única forma de auxilio ao Cristo, lavando de dentro para fora as imperfeições e lascas retirados pelo lapidar de suas mãos.
Chorar.
Mortificar o que vai embora, e que se esvai vez por todas de minha vida.
Chorar.
Verter lágrimas de alegria, na certeza que depois da chuva é que o arco-íris aparece.