Rastejar ou andar.
Caminhar ou correr.
Andar ou voar!
Agir conforme se deseja, desejar além do que se cumpre em meus atos.
Vendo essa imagem, fiquei fascinada por cada detalhe que ela representa. A mão que tenta alcançar o que está próximo, nenhum rosto comungando do desesperado ato da mulher, que rasteja suplicante por ao menos tocar a barra da vestimenta Daquele que a precedeu, e por algum motivo a fazia crer em cura ao incurável. Algumas mãos, em contraposição a suas interpelações e desprezando seus sentimentos, tentavam detê-la de ultrapassar toda e quaisquer razão dominante de seus pensamentos, que a desacreditaram de uma vida digna e compatível com os desejos de seu coração, como comunicar-se com outros, conviver com os de sua descendência, seu metiê, ou, simplesmente, ir ao templo, chorar suas lástimas e alegrias com seu Deus.
Em seu rosto, afigura-se sua história. Em seu rosto, estampada está a agonia da crença no impossível, esgotando todas as impossíveis e desesperadas possibilidades de restaurar sua dignidade. O sangue escorrido, a doença incurável, em nada doíam na mulher, julgo eu. Seu rosto expira insatisfação pela imposta condição de indignidade adquirida, pelo encontro insuperável de seu ser com um mal, que não desejou, tampouco procurou, mas sofre por muitos anos.
Sempre à margem, sempre nas beiradas. Desfez-se de tudo o que possuía, inclusive do seu amor próprio, sua subjetividade, seu ser pessoa, sua humanidade.
Ela rastejava. Optou por rastejar, afinal, seu problema de saúde não lhe paralisava os membros do corpo, aliás era invisível. Somente seu odor a entregavam, e seus sentimentos de culpa.
Paralisada, estática, suplicante.
Almejava alcançar, com seu brilho no olhar e seus esforços múltiplos, rastejando à Aquele que admirava por seus feitos e acreditava, tinha fé que olharia para sua pobre condição humana e saberia o que fazer. De repente, a pergunta: "Quem me tocou?", seguida da interpérie de seu discipulo, ao dizer tantos Mestre, te tocaram e tocam este instante. Não entendeste ainda, que arrastas multidões?
Mas o Cristo não precisava da multidão, ele precisava da fé. Ora, a multidão de nada importava aquele instante, em que uma força sobrenatural emanava de seu ser. Jesus sabia, mas precisava que, com o poder já despojado na mulher voltasse à Ele, em enlace perfeito de sua pertença a Deus. Seu reconhecimento do sopro de vida, o resgate de sua dignidade com filha do Alto.
Ainda tímida, rastejante, suplicante, responde "Eu Senhor, fui eu."
Como reconhecimento de sua dignidade, revestindo-se de sua humanidade, restaurando o seu amor-próprio, Cristo bem sabia que ia além de simplesmente cura-la de uma doença, pois sua enfermidade maior estava impregnada em sua alma. O evangelho fala que uma força incomum saiu do Cristo, onde o verbo da vida conjugou-se em outro corpo, desdobrando-se nas maravilhas de Jesus até os dias de hoje.
Não tenho conhecimento de quantos se sentem tocados por este lindo evangelho, que mistifica o poder de Deus existente no Cristo pelos tempos. Tampouco tenho ciência de quantas pessoas alcançaram a cura somente em ler essas linhas e entrelinhas. Hoje, limito-me a seguinte observação: se não consigo andar, que eu rasteje em direção a Aquele que pode me salvar, com a fé Naquele que não vejo, abraçando o infinito escondido na sombra de meus atos.
Belíssima análise desse evangelho. Somente um coração que experimentou essa força advinda do Cristo pode escrever com essas profundidade. Emocionei-me.
ResponderExcluirAbraço forte, ploc pink butterly.