17 de abril de 2012

Censurado

“Mais um uísque, por favor”.
Acho essa frase célebre.
Demonstra poder, atitude, comando.
Nos desmandos de meu entender.
Jogo o jogo, entro com todas as fichas.
Encaro, dou risada.
Faço de santa, sendo.
Exploro as naturalidades.
Engano as vergonhas.
Exponho a alma.
Espano o coração.
Faxina completa nos sentimentos,
Deixando as correntes para trás.
Paraliso, fico estática frente a teu olhar.
Desnuda, permaneço no encanto de teus galanteios, e permito, permitindo-me.
E, de repente, entendo: não há jogo algum.
Não há fichas, apostas, mas almas, corpos, desejos, muitos, todos!

Sensibilidades sem governo...
Rendo-me, por fim.
Entregando-me, me entrego.
Adentra, ó amor meu, e ocupa o lugar que é teu.

2 de abril de 2012

O belo.

Provar o sabor amargo da indigência.Há quem se alimente de lixo?
Não menospreze o menor dos jardins.
Há belezas imperscrutáveis detidas em corações assoberbados de si mesmos e suas ânsias.
A beleza bruta, como bela jóia escondida, pois valiosa.
Nascem as pérolas, grãos de areia morrem e fiam nas sobras das incertezas.
Botão em flor, arco íris, tudo passa na efemeridade da  vida.
Belo, feito, triste, feliz.
Podem passar os filmes, as músicas, os poemas.
Mas sem fim é esse fim dos tempos em mim.
Apocalipse de meus sonhos, medo derramado como óleo na baia fértil.
Assolou minha fauna, flora e minha constância.
Sóbria, permaneço no encalço de meus pesos.
Retirem-se, por favor, preciso dormir.
Ó moço, bela é tua voz, e não resisto aos teus encantos, abana as moscas, que meu coração é teu.
"Vinde, ó Deus, em meu auxílio. Socorrei-me sem demora. Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio agora e sempre, Amém!"

Amar, eu amo.

Sem sentir, desisto.
Desistindo, insisto,
sensibilidades sem governo.
Aposto as fichas,
jogo as cartas.
De favor em prece,
levanta-se a voz da ironia.
De pranto em dor,
levanta-se a alegria.
Gostar, se gosta.
E se demora, e se deixa.
Mas odeio o insistir em desistir.

Das lembranças do que não tive

Passa a vida.
Passam os caminhos.
Passam as estações.
Passa.
Tudo passa.
Só não passa o conjugado.
O verbo, a noite gasta.
O sorriso, o pranto enxugado.
O dia, o verão.
O luar, não passou não.
Ficou, e vai permanecer.
Na primavera do meu coração.
O teu olhar, a tua mão.
Lembranças de um futuro bom.
Nas liberdades de nossos encontros.
Cativeiro, abrigo do meu cansaço.
Deita teus olhos em mim,
e devaneia.