Cumplicidade. Alcançada pelo desprendimento de si, sem motivação aparente. As renúncias são várias, de vários aspectos. Impetuosa, se interpõe ao caminho a dificuldade de vivê-las, adornada em embrulhos primorosos vindos em dias de solidão e abandono. Viver a recusa muitas vezes é excluir-se do convívio de raros, ou privar-se de objetivo de desejo sólido e lícito: abster de saciar-se com as delícias da vida. Que mal há? Nenhum. Vários.
Se abandono o abandono não abandono propósitos mas o que eu poderia ser em primazia de virtudes e potencialidades. Se despojo-me da privação sem esgotar todas as possibilidades de desprendimentos às minhas vergonhas, arroto a ignorância da auto-suficiência, não deixando a graça de Deus entrar para estancar o sangue que corre e me torna impuro, impureza trazida pelo meu olhar de condenação perpétua aos meus descuidos de outrora, minha falta de zelo com minha ingenuidade. É quando sinto uma força sobrenatural vir de onde não vejo, como que reafirmando a renúncia, os preceitos evangélicos como verdades inerentes a vida que não são impossíveis de ser vividos, e sim que preciso deles para então ter vida.
Linda. De olhos belos e tristes. Assim se apresenta o ser em minha frente. Seu coração, corrompido das concupiscencias de dias tão longínquos refletem em sua fronte a aflição em plena floração. De repente, lágrimas de diamante saltam dos olhos, desejosas de seguir seu rumo, sem interrupções. Já não sabia como pedir ou começar a clamar. Já não sabia mais quem era: desfigurou o presente, permeado em culpas passadas e desenterradas. A aflição tem disso: nunca vem sozinha, sempre se acompanha do pacote completo da agonia: perturbação, quem lhe perturbe, falta de tempo e algo que nos seja motivo de culpa indesculpável. Calar sugere omissão. Falar sugere perda. Colo sugere Deus.
É quando passa um filme dentro de mim, e todo o curral do meu restrito entendimento é aclarado pela luz do Amor. É quando a privação torna-se abandono e graça, de permear em outrém aquilo que eu mesma vivo, e se torna verdade tão forte que as entrelinhas do aconchego revelam a Cristo em mim e conseguem tirar o embaçado da vista do outro. A condenação mandou lembranças, pois não achou guarida no jardim de meus braços, que abraçam a criança que só quer reaprender a andar com as próprias pernas.
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