17 de fevereiro de 2010

Em tempo de deserto, quem tem fé é Rei..


Deserto. Palavra de significado forte e marcante, alguns diriam massacrante, se vista da perspectiva do descaso, insegurança, abandono. Prefiro ater-me a compreender esse fenômeno como abandono de si em prol do nascimento de outro eu, esquivo das prisões antecedentes.
Assim, passo os momentos de solidão embuída nas incertezas da escassez. A experiência da falta, que levada à extremidade de suas limitações desperta em mim instintos inobserváveis em situações normais. O cansaço excessivo, o trabalho exaustivo, o sabor engolido, o prazer enganado... Todas essas sensações de privação, esquecidas no tempo de nossos antepassados históricos. Sentir ficou tão ao alcance das mãos que privar-se virou sinônimo de pobreza, de sabotagem, do ser e suas consequências. Mas, não seria o contrário? A medida que minhas medidas não tem mais medida, torno-me prisioneiro de minhas consequências, onde meus atos me definem, não o contrário...
E nesse buscar do ser em que devo, longe do que posso, desertifico minha vida.
Que devo eu?
Em tempo de incertezas, as certezas são perfeitamente dispensáveis. Prefiro o solo fértil das perguntas. Quem tudo sabe, acaba por esquecer-se em si mesmo...
Que devo eu?
Acompanhar-me de meu tesouro, presença forte que em mim habita: o que um dia foi visita em meu viver, hoje é esse calor que fumega em meu peito. Forte como a morte, quente como o fogo... arde sem se ver, impossível não querer. Uma vez experimentado, é igual fé, não mais teologia...
Fugiria eu?
Jamais, permitir-se está para a maioria, Barrabás também estava...

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