24 de agosto de 2010

Cativando


Explicar não sei, e isso não mais intimida. Não saber tornou-se prazeiroso, a frustração não se achou mais no espaço das misteriosas explicações. As coerências não fazem sentido, as prepotências já não tem abrigo. Os encantos da riqueza revestem-se de pacata simplicidade. Os adornos, tão necessários e vaidosamente indispensáveis um a um, peça a peça, sentido a sentido, vão sendo retirados e esquecidos: sua utilidade passou a nada... Ser tornou-se o fundamento, a viga mestra da edificação. Firmamento e chão se entrelaçam e um futuro cheio de possibilidades passa a ser um presente recheado de sentimento. O amanhã transforma-se em hoje, e o presente não mais atemoriza, verso! Sua é a única certeza temida.
A gama de medo transmuta-se em centelha de aprendiz. A prosa toma forma de silêncio, sábio professor. O casulo é lavado pelo orvalho da manhã, o aperto não incomoda mais. As gotas d'água que porventura molham seu interior também não. Esforço a esforço, solidão em sanção, de nada fizemos, de tudo somos feitos... Cada desprendimento, cada orvalho decaído, cada estação vivenciada: a inteireza que me coube e me trouxe até aqui. O tempo de ser verbo chegou, conjugação enfática do dito pelo Bendito. Saber-se em ser, viver buscando saber... Sair do casulo, abrir as asas: um novo vôo, sempre renovador e curativo. Um novo caminhar, fundado na teologia presente: sensível porquanto não palpável. A pupila não alcança as convicções da fé... E a simplicidade do ser alcança as entranhas, entrelaça-se às profundezas da alma, encarna-se nos gestos, nas palavras, nos modos, nas sapiências, nos desdobramentos e consequências. Por vezes a fala não acompanha o sentir. O gesto chega atrasado. A palavra, acessória e dispensável, interpõe-se vez por quando ao ser. Mas por gratidão sempre prevalecem pureza e simplicidade: apurados da Divina Misericórdia.
Afinal, temos sede de conhecimento. Mas, acima, temos pressa em Ser! Em conjugar os verbos inaptos por inutilização, sacralizados por vocação, conjugados na atemporalidade da graça! Isso sim é cativar a alma... Atribuir sentido ao viver. SER!

Um comentário:

  1. Pablo7:34 PM

    "Sua é a única certeza temida"...
    Por ser certeza, já é graça! "O verdadeiro amor lança fora o temor".
    Um abraço...
    Pablo

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Obrigado por me incentivar a escrita! Você é dom de Deus na minha vida! ;)