2 de setembro de 2010

É, não dá mesmo pra voltar...

Impropriedade. Qualidade do que é impróprio, que está fora da conjuntura normal do ser em que reside. Incoveniência, incorreção. Deslocamento... Decerto, somente reconhece uma impropriedade aquele que conhece o próprio, a propriedade em si, em todas as suas plenitudes e horizontes. Somente se reconhece desmerecedor do merecimento quem reconhece em si suas inadequações ao adequado, ao irrepreensível. Somente confessa a imperfeição quem reverencia o que é perfeito, pois o esmiuçou em cada pormenor, cada particularidade.  O mais constrangedor de tudo é que o que é posto não é imposto, mas brota do desabrochar de conhecer-se e ser conhecido, sem, no entanto, restarem cobranças. Os merecimentos nascem de desmerecimentos, e se transformam em graça, percetível desarranjar de ato pretérito que venceu o que quis ser, e por vezes sou e outras, nem tanto. Os desajustes, também comparados ao Incomparável, são sementes de joelhos dobrados que, sem saber, buscaram a posição certa de estar ao Sol. Afinal, busquei, sempre buscamos algo, sempre queremos algo. Sempre estaremos, mesmo sem saber, envoltos a pedidos e milagres, os pequenos absurdos cotidianos e incoerências humanas. Incorreção à mim, perfeição do querer em Deus... Ademais, administrar esse monte de querer junto, sem mexer na vontade humana, meu Deus... só Tu mesmo.
Voltar atrás sem querer ficar por lá. Olhar a paisagem que ficou, sem desejar ostentá-la. A beleza não reside somente no que vejo pela frente, afinal as águas profundas são turvas e retiram o direito de minhas pupilas enxergarem com clareza a limpidez com que a margem se apresenta. As ondas são mais seguras, afinal a terra firme me calça os pés. A sombra do coqueiro, o alimento fresco e à mão, os velhos amigos, os velhos hábitos, as sempre seguranças, os até então eternos costumes... E os sentimentos continuam a fazer maré contrária, com revência à senhora vontade. Outrossim, o que me chama diz que me ama, e esse Amor eu conheci, e que será o vento na medida do que apresento. Me dará as redes e me dirá o local, porém lançá-la dependerá de mim. Posso chamar outros à minha labuta. Posso pedir ajuda. Posso, tudo posso. Por fim, tudo depende de mim. Ir ou vir. Ficar, me afogar, nadar, navegar, tudo, absolutamente tudo, depende de mim: do que eu entrego e do que eu resguardo. Acreditar ou não, em sua palavra. Ser obediente ou não, aos seus pedidos. Ser fiel ou não às suas promessas. Aqui, não cabem condenações. Mas reconhecimento de quem sou, e de quem Ele é. E saber que nem sempre o caminho curto é o mais fácil, e nem sempre o caminho de pedras é mais difícil... nem sempre o alto mar é assustador: depende de quem te acompanha na viagem...

Um comentário:

  1. Suas palavras são bem coerentes com a formação da morada e, nesse texto, você foi ainda mais feliz no trabalho com as palavras, seu antônimos e suas semânticas. Um dos melhores que já li.
    Deus multiplique seu dom.

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Obrigado por me incentivar a escrita! Você é dom de Deus na minha vida! ;)