Orgulho, pai da vaidade. Distinção, mãe da incoerência.
O orgulho, quando trabalhado com afinco, consegue alcançar resultados satisfatórios de isolamento e solidão. A depressão mormente provém de orgulhos isolados que foram aprimorados ao longo do tempo, transformando situações de possível superação em agonias de estimação, de irritável apreço.
Nem toda palavra profanada para mim deve ser processada e assimilada como tal. Não dá para analisar o momento isoladamente. São só dois lados da mesma moeda. Há, isso sim, uma pessoa do outro lado, que precisa de ajuda, tanto quanto eu. Acontece que eu estou tão ocupado e preocupado comigo mesmo que esqueço que à minha frente existe uma pessoa como eu, com preocupações próprias e dores suas. Não dá para querer que o mundo todo seja como quero, seria infantil demais pensar assim. Mas também precisamos entender que o mundo não pára para que possamos entender tudo isso. Se deixarmos ele (mundo) nos atropela sem chamar socorro, nos deixa no chão mesmo. Acabamos, com isso, a fazer o que o mundo deseja, nos encher-nos de todas as suas angústias e sofrermos junto com ele a roda-viva de uma vida desenfreada, buscando em mim aquilo que preciso, e o outro se vire para achar o seu. Um pouquinho do meu? Não senhor, te vira. Demorei demais tentando achar.
E nessa ida e vinda de descobrir ser o que se é, dentro de mim mesmo, me decepciono mais e mais comigo, me isolo cada vez mais, busco ainda mais aquilo que em mim nunca poderei encontrar. Ai, o orgulho, pai de tudo isso, vai nos matando, nos anulando, pouco a pouco. Brigamos cada vez mais, porque o tal do orgulho nos diz: você pode ser sozinho, você não precisa de ninguém para fazer nada, você é independente de tudo e todos. Você se distingui dos demais, até dos seus, de sua descendência. Erra, mas não assume. Encosta na solidão, se abraça com ela, com ela faz juras de amor eterno, pois "sozinho sou feliz", não preciso de ninguém, sou bem sucedido, de vida estável e coração solitário que não precisa de ajuda.
De repente, você vê um casal, é um desses casamentos que deu certo sabe, que as pessoas são felizes, que não se separou apesar das divergências, de a mulher sempre reclamar dos mesmos erros do namorado (agora marido) e vice-versa, que os filhos são bem criados, é, um amigo muito querido que levou uma vida um pouco diferente da sua. É, vocês até brigaram uma vez e deixaram de se falar, por orgulho. Neste momento, sente um vazio, que não é fome. Sente falta da sua família, seu pai que mora com você e ao mesmo tempo é distante. Sua irmã, que divide o quarto e não é sua cúmplice. Seu irmão que não fala com você. Sua mãe que vive lhe torrando a paciência com erros que são próprios dela. Seus demais familiares, que dividem sua vida contigo e você não divide a sua com eles. Seus amigos, que são seus amigos mas você não é amigo deles, só de conveniência, isso tudo porque você não ultrapassou a barreira do orgulho. O orgulho de se mostrar como se é. O orgulho que não deixa você errar e admitir que errou. O orgulho que diz: você é perfeito, você não precisa pedir perdão.
E, nesse caminhar, você acabou esquecendo lá atrás a beleza do ser humano. O humano que erra e ri. O humano que ama e é amado, mesmo sendo imperfeito. O humano que chora, sente dor. O humano que tem dor de barriga e debocha de si mesmo. O humano que admira um lindo por-do-sol e acha aquilo fantástico. O humano que admira a Deus, mesmo o mundo inteiro incorrendo ao grande deus orgulho, vaidade, de não depender de "alguém" que é onipresente e não "se mostra" na televisão. O humano que não se deixa abalar por afirmações do que não é, pois sabe do que é feito, para que foi feito, e como deve proceder mediante as situações, mesmo não sabendo de nada disso.
Enfim, isso tudo me passou pela mente e me fez refletir que o outro é sempre melhor que eu, pois, mesmo entendendo tudo isso, eu não consigo ser melhor do que sou. Outrossim, também me faz compreender que se o mundo não pára pra me ajudar a assimilar o que agora não entendo, eu tenho que zelar por mim mesma, parando, respirando fundo, analisando com calma, e prosseguindo, na valsa silenciosa das demoras, retardando o acontecimento, assimilando a quietude, vivendo.
"Enquanto o tempo acelera e pede pressa.. eu me recuso, faço hora, vou na valsa.. a vida é tão rara!"
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