23 de junho de 2010

E a vida?


Meu passado não aprisiona mais o meu futuro. Não possui mais o poder de estancar minhas inconstâncias. Ao contrário, é remédio curativo para administrar minhas mudanças, como o gotejamento é necessário a plantação no árido: preciso de homeopáticas doses de lembranças para sarar o viver presente e abrir-me a um futuro de possibilidades.

Entender-se como quem se é. Surpreender-se pelo possível desprendimento de si, abrir a janela para o sol entrar: recursos escusos por mim, minhas raízes sempre presas na certeza de todas as consequências sem abrir-me ao leque de pretensões a mim expostas. Deixar o sol entrar, estabelecer morada. Afinal, que tenho a perder senão a vida? Que é a vida?

É passado, presente e um futuro de possibilidades findadas nas escolhas plantadas em dias ruins ou bons, felizes ou tristes. É felicidade trancada, é tristeza aberta. É dia de sol inutilizado, dia de chuva aproveitado e é vice-versa. É bobeira, beleza, alegria e tristeza. É amor e perdão, sansão ao que não amou, ânsia de espera, outono e primavera: cada estação com sua beleza e tendência peculiar a remeter a vida da forma que precisa ser vivida em plenitude de entrega. A natureza leciona belamente a maior riqueza que um ser humano pode aprender de Deus: a nascer e morrer, desprender-se de vaidades ou abrir-se a beleza, conforme o mundo ao seu redor se apresenta.

Que é a vida? Uma gama de possibilidades de ser feliz!

20 de junho de 2010

Cuida de mim...


Pra falar a verdade, Senhor
Às vezes, minto
Tentando ser metade
Do inteiro que sinto

Em meu coração
Que pulsa
Por um amor verdadeiro
E quer
Se doar por inteiro

Mas mentirosa e traiçoeira
É minha razão
Banaliza o sentimento
E emudece a ação

Sou capaz de forjar
Em mim desculpas
Esfarrapados motivos
De me redimir sem culpas

Para não sofrer
No desalento do engano
E adormecer o dia
Revolta e em prantos

Dou-me em metades
De desconfiança plena
Dou-me em inteiro
De estações incompletas

Rogo o cuidado
O carinho, o amparo
Rogo a acolhida
Quero dor, bendita

Rogo a chance
O sempre último primeiro motivo
Peço o abrigo
Vela meu sono...

Abono
Da promessa
Do querer, em mim,
a terra....

12 de junho de 2010

Inadequações

Sentir-se incomodado com o quadro torto da parede. É como a vida: em tempos de crise sempre colocamos o olhar principal para algo perfeitamente passível de desprezo e esquecimento, corriqueiro vício diário, incapaz de me lançar no abandono de minhas morais, raízes de minha fé. A razão arrasta-me a um oceano de verdades, lícitos exemplos de: como consertar sua vida em um dia. É literatua tentadora, contudo profanas são as insinuações.
Verdade, me sinto ferida por tais averbações simplistas. É como se minhas inadequações fossem desnecessário e excessivo zelo com algo que perdeu o sentido, já é ultrapassado. É como se todos os meus problemas tivessem raiz no que hoje não me pertence: em minhas abstenções. É como se meus desprendimentos residissem numa fonte inesgotável de meus primorosos defeitos: virtude de como solucionar problemas complexos.
É, dificil estrada de caminhar, se visto da perspectiva do que me vê. Por vezes, me pego enxergando-me com o olhar do outro, sempre aquele que tem uma sugestão mirabolante para meus problemas. É quando me pego enxergando-me inadequada para a vida montada, que me espera nas projeções de outrém. É quando peso a vida com a balança das decisões eivadas de solidão, de seguir na contra-mão do mundo. É quando a mochila pesa, e você começa a repensar em tudo que você traz consigo: é hora de ser pelo Essencial, mais uma vez, e abandonar pelo caminho os pequenos pesos que incomodam, vaidades de outrora, hoje sabidas desnecessárias para seguir.
O jogo continua: as peças, sempe as mesmas. Quebra-cabeças sem fim, que segue no corriqueiro da vida. Mas cuidado: nunca deixe que o cotidiano lhe roube o que você é por essência, aquele que somente você pode ser. Nunca deixe que o corriqueiro da vida lhe torne peça dispensável do seu quebra-cabeças: no desafio de ser gente! Gente que faz a diferença... Lembrando sempre que os outros lhe vêem da mesma forma que você se vê... Quem você é.

8 de junho de 2010

Castelos de areia: minhas ilusões, preservadas em meus sonhos irriquietos, que teimam em resistir em mim. Afinal, o sonho não seria a projeção de um desejo profundo? Ápice da vontade? Cume do anseio? Significá-lo por ilusão... temo, por vezes, reduzi-lo as minhas incapacidades, acomodadas nas esperas, desses dias em que só quero que termine bem, que se completem minhas horas de exibição para então recolher-me em minha insignificância.

Seria então, ilusão o sonho? São tantos, meu Deus... tantos e muitos... Vontade de viver neles, em felicidade sem fim. Mergulhar na realidade, possibilidade de viver o impossível de hoje. Hum, gostinho de Céu. Tocar os limites, meras linhas imaginárias e sorrir por sua volatilidade, inconsistência e impotência em deter uma alma livre... toda livre!

Sabe que isso tudo junto e misturado é interessante: minhas impotências de estimação, reconhecidas capazes de deter minhas coragens e minhas coragens capazes de vencer minhas impotências! (risos) Senhor, eu chego lá! No sonho Teu, eternizado no meu viver... Castelo de cristal, com vistas para o mar do Teu amor.

7 de junho de 2010

Pedido de desculpas

Desculpe se não sei rezar. Sempre me perco nos tantos pedidos alheios. Por fim, me acho no amém seguido da entrega, que não mais se acha no que acredita, pois se tornou a própria crença.

Desculpe se não sei amar. Sempre me acho nos encantos de teus olhos, e confundo-me nos dias perturbados, como a criança se distrai com a sua nova descoberta. Não é que eu não ame com tudo o que eu posso, mas por vezes não permito-me a todos que amo.

Desculpe se eu sumir. Sempre me esqueço em meus afazeres, perfeitos para minha sempre solidão. Neles, me incumbo de ser útil para mim, minha vida. É como parar em mim e saber que estou viva para os outros.

Desculpe se eu chorar. Nunca sei como agir em alegrias extremas, tampouco em tristezas profundas. Carregar minhas dores ao meu Calvário particular, para então morrer e, por fim, ressuscitar é tarefa solitária. Ou, simplesmente, emergir tanta alegria que não caiba em meu coração, e meus olhos enciumados clamam por atenção, sorvendo um rio de misericórdia para minha alma cansada.

Desculpe se eu reclamar. Por vezes não caibo em mim de tanto furor, por ver o erro ao alcance de minhas mãos: sempre tenho o instinto de ser a artesã escolhida para consertar os fatos. Mal sabe, pobre infeliz, esse é um papel que só cabe a Deus.

Desculpe se sou feliz. A felicidade em mim aflora em cada amanhecer, como a aurora ansiosa pelo dia, e o luar pela noite. Desculpe se meu amanhecer trouxer pranto, a chuva por vez cai em meu quintal. Ela prepara o solo, bem como alimenta de esperança para o fruto vindouro.

Por fim, desculpe-me. Pois cada ser é único, e busca ser o que acredita, no saber de cada coração que perpassa a alegria de ser quem se é, e vez por quando renasce numa alma feliz.