3 de dezembro de 2008

Cheio de mim, vazio do outro..

"Naquele momento, Jesus exultou no Espírito Santo e disse: Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado". (Lc 10,21).
Como melhor lhe aprouver, assim veja a Jesus, e à sua esposa Santa Igreja. Assim vejo meu Amado, como melhor ele se "aproveita" em minha vida.
Não se trata de aversão, não! Tampouco de "encaixe" de Deus em minha vida... Mas sim de melhor entender o Amado em meu momento vivido.
Deus é imutável. Me irrita e ao mesmo tempo me envolve de candura quando vejo pessoas questionando acerca da sacralidade dos escritos bíblicos, chegando ao ponto de dizer que a Bíblia é ultrapassada, saiu de moda. Muitas vezes me assusto com indagações como esta. Se digo que a Bíblia está caduca, digo o mesmo do meu Senhor, meu Deus. Se digo que a igreja já morreu faz tempo, digo o mesmo de meu Amado, seu esposo, criador da criatura e de nós...
Me abala e ao mesmo tempo me enche de dúvidas as perguntas que são interpeladas incessantemente sem meu domínio, intercaladas entre aflições, uniões, prisões, alucinações, perdições.. a verdade é, acho eu, que queremos desculpas para nossos próprios erros. Estamos constantemente buscando, como em peças jurídicas, fundamentos para nossos erros, e quando nos deparamos com as liberdades das verdades Divinas fugimos, pois é mais fácil viver nos devaneios das prisões humanas eivadas de mentiras consoladoras...
Buscamos consolo e amparo para tudo. Desculpas para sermos quem somos sem precisar pedir desculpas, sem precisar pedir perdão, sem precisar pedir amparo, sem precisar pedir apoio, sem precisar pedir vida. Os outros? Tem que entender meu jeito, afinal, sou do jeito que sou. Deus me ama, tenho certeza disso, não preciso mudar só para agradar. Tudo fachada...
Outro dia uma pessoa que tenho um carinho imenso me falou algo que mudou minha vida. Estávamos algumas pessoas a conversar sobre oferta, sobre o que ofertar a Nossa Senhora quando de nossa Consagração à Mãe. E as que já haviam se consagrado, uma a uma, foram contando suas experiências de consagração, de oferta. Uma pessoa me chamou a atenção. Essa pessoa não faz nada de extraordinário aos olhos dos homens. Ela não opera milagres exorbitantes, tampouco fala alto as maravilhas do Amado. Não, ao contrário. Sua fala é como sussurro, passaria facilmente despercebida em muitos momentos. Não se envaidece com elogios, ao contrário, eles a mortificam. Enfim, ela falou que a oito anos ofertou a Maria tudo o que mais gostava, pois assim Nossa Senhora a teria pedido. A oito anos ela abdicava, mortificando-se do que mais apreciava em vida para honra e glória do nome do Amado, pelas mãos amáveis de Maria... Alguns padres já a haviam falado que o domingo ela teria que se sentir livre, pois é o dia do Senhor, e, neste dia, ela não pode fazer quaisquer sacrifícios. Mesmo depois disso, ela ainda esperou algum tempo a confirmação da Mãe para, então, no domingo, descansar das abdicações diárias.
O que mais me comoveu na partilha da irmã foi a forma como ela falou, não o que ela falou. Enquanto ela falava era como se mel saísse de sua boca, em sua fala. Uma felicidade particular a envolvia, felicidade de quem entende e ama o que vive. Emanava de seus olhos amor, saltitava por suas pálpebras enquanto partilhava seu íntimo. E enquanto aquela mulher pra mim até então simplória falava, em meu coração ela ganhou novas cores, novo lugar. Era como que Maria tomasse a forma de gente e nos viesse falar do Amado. Naquele instante, meus pensamentos rumaram novo sentido sobretudo acerca do outro, do que vive no outro, das necessidades do outro, das percepções do outro... Buscaram um novo sentido para os defeitos do outro, pros sentimentos do outro, pelo que ele vive, por seus anseios, suas virtudes, por tudo, em relação a tudo. Porventura, vi que sou menor e mais pobre do que poderia em sonhos imaginar...
Naquele momento, recordei-me de um pensamento de Santa Terezinha que diz, em súmula, que não podemos obrigar as pessoas a pensar como nós, mas sim mostrar ao Meu Bom Deus como Ele pode precisar de mim...
Deste modo, tento não mais buscar respostas para as coisas do mundo, mas sim entender as virtudes do Amado para, inserida no mundo, conseguir a proeza de não querer me igualar a ele.

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