27 de janeiro de 2010

Amadurecência


Olhar a vida.
Passar na vida.
Ser na vida.
É quando o que de mim aflora sofre a demora das decisões repensadas, reflexões desconformes ao ser infantil, coisa de adulto.
Alcançar o entendimento da graça silenciosa do pensar.
Abraçar o infinito dos meus pensamentos antigos, explorar seus espaços vazios, preenchê-los com meu presente vivente, desdobrá-los em sussurros ao vento, como palavras extraídas de pensamentos acertados, num quebra-cabeças lógico e inequívoco, por muito mal compreendido.
Chorar, chorar e chorar, pela graça do entendimento pretérito da graça remanejada ao futuro.
Sorrir, sorrir e sorrir, pela preterição de saber-se escolhida.
Agradecer uma vez, e mais, pelo nada, pelo tudo, que faz, desfaz e faz outra vez frente aos olhos.
Descompor defeitos, coração congelado no ser aprimorado e feliz, até o próximo desafio.
Desfazer conceitos, do novo interposto tempestivamente, na intempestividade de minhas acomodações, no desfalecer de minhas vergonhas.
Restar, viver as virtudes da sanidade aprimorada pelas belezas da criação pretérita de meu viver pensante, edificado nas ruínas do que hei de vencer.
Presentear, ao Doador da vida que emana de seu lado aberto, comunhão consanguínea de dor e amor, de filiação, com a carne viva do meu corpo, a sentir e ressentir as dores, os amores, amadurecimento de minhas consequências... Na guerra e na paz, sem mudar o que faz saber-me no rumo certo da vida desejada por todos os viventes: eternidade.
Olhar a vida.
Passar na vida.
Ser na vida.
Te Trago flores, nascidas do jardim dos atos meus.

Aquilo que é, já existia, e aquilo que há de ser, já existiu; Deus chama de novo o que passou. Eclesiastes 3, 15.

17 de janeiro de 2010

Poema fraternal



Do teu amor
Tornei-me encanto
No teu ardor
Tornei-me espanto
No teu pedido
Achei-me um dia
Chamou por revel
A rebeldia
Por isso escrevo
Tais linhas tortas
De um poema
Que a alma canta
Em teus encantos
Que se desprendem
De uma canção
Que se compõe
No dia-a-dia
De corações!


Desalento





Palavra dita
Virou maldição
De bendita, virei perdição
De pensamento, incitei perdão
Em tormento e compaixão
Não mais amor senti um dia
Sobrou a dor, a agonia
O desamor restou somente
Do amor a dor, o não semente
Sonhei um dia em te dizer
O que eu sinto, desfalecer
Agora esqueço em pensamento
O que me anima, ó Maria..

16 de janeiro de 2010

*




“Ó Deus,
me deixa trabalhar na cozinha,
nem vendedor nem escrivão,
me deixa fazer Teu pão.

Filha, diz-me o Senhor,
eu só como palavras.”

* O poeta ficou cansado, Adélia Prado. 










"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e se consume,
com seu poder de palavra."

* Poder de palavra, Drummond.



15 de janeiro de 2010

Nem...



Nem toda oração é perdão.
Nem todo sentimento é paixão.
Nem toda dor é por amor.
Nem todo riso é sonhador.
Nem todo homem é belo.
Nem todo choro é sincero.
Nem toda casa é feliz.
Nem todo palhaço tem nariz.
Nem todo olho é risonho.
Nem todo semblante é tristonho.
Nem toda face é feliz.
Nem todo coração, matiz.
Nem todo amor é desprendido.
Nem todo corajoso, desmedido.
Nem todo horizonte é azul.
Nem todo vento vem do sul.
Nem toda palavra é prece.
Nem todo sinônimo que se preze.
Nem todo canto, viril.
Nem todo céu, azul anil.
I'nda vejo no meu olho uma palha, a pálpebra que não me deixa enxergar: o nem que intervém a vontade, de querer sempre acertar.
Esperando, vou esperar. Pelo Amor, afim de amar. Quando o nem não mais me interrogar, quando o sim souber imperar, no reinado de quem, por fim, souber amar!

****************

"Esperando, esperei no Senhor, e inclinando-se, ouviu meu clamor. É feliz quem a Deus se confia; quem não segue os que adoram os ídolos e se perdem por falsos caminhos. Sacrifício e oblação não quisestes, mas abristes, Senhor, meus ouvidos; não pedistes ofertas nem vítimas, holocaustos por nossos pecados. E então eu vos disse: “Eis que venho!” Sobre mim está escrito no livro: “Com prazer faço a vossa vontade, guardo em meu coração vossa lei!”. Boas novas de vossa justiça anunciei numa grande assembléia; vós sabeis: não fechei os meus lábios!" Salmo 39.




8 de janeiro de 2010

Hosana ao Rei

Santo, Santo, Santo
Rendo-te graças
Glorifico-te
Senhor do infinito
Encarnação da graça

Santo, Santo, Santo
Conjugação do Verbo
Do Deus soberano
À Ti toda honra, todo louvor
Pelos séculos sem fim!

Rendo-te graças, proclamo a Tua Glória
Levanta-Te da terra
Rebaixo-me ao chão
À Ti ó Cristo, Perfeito Amor
Sempre rendereï: Hosana! Hosana! Hosana, ao Rei!

João 12,32 E quando eu for levantado da terra atrairei todos os homens a mim.

6 de janeiro de 2010

Vaidade das vaidades

Por fim, passei meus dias a pensar o que seria vaidade em meu coração. Subsistiria a razão ao medo? Existiria somente razão? Vaidade, vento que passa, se dissipa no tempo, junto com as ansiedades em tempo de dor. O essencial, invisível as felicidades, o imaturo visível ao sofrimento.

Escolhidas as razões a enfrentar: escolhido o sentimento a extirpar. Vaidade, já dizia o Eclesiastes, tudo é vaidade e vento que passa no universo de minhas incertezas... Certo ponto, já sabido vencido a tempos. Certo instante de limitações extranguladas até a extinção. Certa fronteira, avançada as pressas, em detrimento ao silêncio interior alcançado como o alpinista rumo ao cume da montanha. Olhos fixos no alvo, certeiro aventureiro desbravando o caminho da felicidade: a floresta é desconhecida. Sabe-se dos mistérios, quer-se desvendá-los. Mas, haveria razão ainda de ser mistério se descoberto? Subsistiria então. Vaidade, plena vaidade, de se saber conhecida em plenitude de consequências.
Vaidade, de desejar sentir até a última consequência do pensamento.
Vaidade, de angustiar-me em premeditar o sentimento.
Vaidade, de controlar o coração, até no inesperado.
Consolo, na Divindade permeada de motivos de existência, metas alcançáveis e palpáveis.
Amor real, mas tão real, que chega a doer.
Encontrei-a, porquanto não sei usá-la: essa tal felicidade, como a controlarei? Vaidade das vaidades... Tudo é vaidade e tempo que passa debaixo do sol... Assim, decidi por lembrar-me nos dias de hoje, Daquele que me geriu no passado, me salva no presente, e providenciará meu futuro. Pois Dele hei de me gloriar em minha juventude, a fim Dele lembrar-Se de mim quando o sol não mais se pôr aos meus dias...