29 de outubro de 2009

Temperança


Sabe o que penso. Sabe o que falo. Sabe o que engano. Sabe o que amo. Sabe.
Tudo sabe.
E maravilho-me cada dia em saber que não mais me assusto em ser encontrada.
Não mais temo a exposição de mim mesma.
Sou feliz, por assim dizer, pela consequência de meu eu entregue aos outros.
Meu ser, de portas abertas a receber quem chega, independente de quem for.
Meu pobre fio de vida, fortaleceu-se em fios de ouro, entrelaçados aos meus frágeis atos, eivados de incoerência. Atos nobres nasceram, de sementes plantadas outrora, e frutificadas em momento certo e escolhido, para renascer em minh'alma a graça da vida e da morte.
É tempo!
Tempo de olhar além, tempo de não perder tempo, tempo de esquecer-se de marcador tão irregular de vida.
Sem respeito o tempo passa, com graça a vida dança.
Entorpecida, a mente vagueia. Enfurecido, o coração passeia, pelas várias esferas do amor, pelos mais eloquentes discursos do amar. Enfureceu-se em amor, enlouqueceu em amar a si, ao outro e a quem passar.
Dança, dança coração. Não perde tempo.
Afinal, que graça tem o tempo, senão a vontade de tê-lo?
Suspira coração, ama.
Não engana, caminha, no caminho dos desesperados pela temperança de sentir-se amado por Deus, na espera dos crentes, que acreditam no viver eterno, que ultrapassa a lógica dos relógios.
Trapaceia coração, esse cretino, que amarra-te em prantos, e dança feliz da vida, a vida que Deus te deu!

19 de outubro de 2009

"Eu em nós". Minha primeira apresentação teatral em dobradinha! Como escritora e personagem.. adorei!



Esse é o texto inicial, sem cortes. Baseado em minhas vivências à luz da seguinte frase de Adélia Prado: "Uma borboleta pousada. Ou é Deus, ou é nada." Encenação apresentada no teatro Ibeu, em Fortaleza, no evento "Catecriando" promovido pela Comunidade Católica Recado, junto com meus irmãos do vocacional, que me ajudaram e ajudam este e em muitos anos a entrelaçar ou desvendar meus nós. Aqui, meu muito obrigado a todos, sobretudo aos meus amigos do Ministério de Teatro da Recado, Carol Li e Falco, que tanto ajudaram em tudo! Bem como a Andrea, uma nova amiga que me ajudou e muito nos movimentos e interpretação! Andrea, você fez milagre... rsrs beijos!



Uma borboleta pousada ao jardim. Ou me explica algo sobre Deus, ou nada transmite sobre mim. Nada explica da existência da beleza, apenas bate suas asas, sorrateiramente, sem anseios ou desejos. Minh’alma caminha nos mistérios da vida, ao sabor do prazer, ou seria do amor? Amor não vivo ..... de amor viveria? Vida sem graça, graça de vida? Ah! O amor ... chegou assim, como sem ter fim, em mim. Explicar não sei, tampouco pensei, algum dia ter de viver o que sonhei. O Amor em mim, sem ter fim.... De onde vem não vejo... Mas uma certeza tenho, que se o Pai desdenho, amor não tenho. Não há mal na vida que traga um bem, não há bem que traga mal, não faz mal fazer o bem. O bem me faz tão bem... Quando o bem faço, se instala em meus passos a certeza de boa vida viver. Se no mal insisto, logo desisto do que tinha pra fazer. O bem de todo modo, é o propósito do meu viver. Tanto e de tal modo, que sinto em mim uma força diferente ao fazer as coisas certas. Mas, o que seria certo? Decerto o que faço, que meu coração anseia, de bom grado do Amor que em mim pulsa. Ou seria o que o outro pensa que posso? O alcance não tenho, o Amor mal sei onde se instala. Ajuda preciso, porquanto insisto que sozinha posso, tudo posso. Para fora algozes, minha alma é minha, so minha. Não preciso das algemas da morte, se a vida é insistente em meus passos. Meus pulsos latejam o sangue que corre em minhas veias, meu sangue, o que importa? Segredos e anseios se misturam com meus sentimentos, o que almejo de mim mesma? Seria o Amor prisão? Seria ilusão? Quando sou quem não sou, busco por coisas alheias, impostas, sentimentos de outrém, que aprendeu a ser quem não é, e ser teoricamente feliz, ou não. Meus olhos querem algo, meu coração quer alguém. Meus lábios cantam o que o coração não sente, preso as amarras que não o deixam voar, voar, voar... Sou prisioneira de minhas incapacidades. Leal, fiel, cumpridora de pena perpétua imposta por mim mesma, carrasco, em versão aprimorada, de meus sentimentos. Como poderia vingar-me de mim? Como poderia fugir de mim? Quando do amor me esquivo, a solidão toma conta dos meus olhos, dos meus sentimentos, dos meus passos, dos meus sonhos, de mim. Acontecem em mim coisas que são de minha vontade, que me permito sentir, e isso me deixa profundamente triste, pois não gostaria de sentir o que sinto, ver como vejo, ouvir como ouço, falar como falo. Minhas vontades não acompanham minhas necessidades, minhas necessidades não acompanham meus atos, meus atos se atordoam por seguir minhas vontades, não minhas necessidades. Sigo o que entendo seguir, não sepultei certas necessidades de minha humanidade para bem viver a minha .... Meus desejos! Ah, meus desejos... São latentes em minha sensibilidade, e afloram em meu olhar, meu falar, meu agir, principalmente se atordoados por pensamentos instintivos. Se o amor desdenho, o amor não tenho. Ele desistiria de mim? O ir e vir, ficar ou não, bem ou mal, morrerei. Por não conseguir alcançar o que parece tão próximo. Minha suplica e orante, minha oração e vivente. Se faço da minha vida oração, o que esses momentos permeiam em mim? Qual o intuito de minha vida, senão tocar o coraçao das pessoas para o bem? Se não consigo, como faço? Não sirvo pra nada mesmo. Se não permeio amor a quem deve ser amado, permeei solidão, permeei discórdia e o que me deixa com mais raiva de mim mesma e que isso não tem fim!!! Entro em conflito com minhas necessidades de ser melhor, contra os mandamentos de meu Deus e volto pra pedi-lo perdão, mesmo já sabendo de tudo isso, de como devo agir e pensar. Como sou fraca Como sou desnecessária... A vida que desejo não e a que vejo. Se percebo amor, o forjo em mim, para bem satisfazer o outro. Perai! Ele bem existe aqui dentro do peito, ou seria ilusão? O perdão, a sansão, por algo acontecido, sofrimento pelejado em centelhas de discórdia. Insistência na persistência do mal amar, do desamor, trazendo amor, sabendo-se amado, do lado, pra bem viver a vida antes mal vivida. De proteção a perdão, sem mais negar ou sonegar, o abraço, o carinho, o amparo ou o consolo, pois quando não se merece ser amado, e quando mais precisamos de amor...


"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine. Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada. Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria! A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade jamais acabará. As profecias desaparecerão, o dom das línguas cessará, o dom da ciência findará. A nossa ciência é parcial, a nossa profecia é imperfeita. Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá. Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança. Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então veremos face a face. Hoje conheço em parte; mas então conhecerei totalmente, como eu sou conhecido." I CORINTIOS 13, 1 – 12.

13 de outubro de 2009

Divino Humano


As descobertas reveladas me lançam a realizar coisas que jamais eu, por meus próprios méritos seria capaz de efetivar. Dentro de minha humana condição de busca da Divindade, de assemelhar-me a Deus e compreender que muito longe estou de conseguir tal façanha. Tolinha... Deus é Deus! Cristo pediu distancia do Cálice, e Deus falou a Ele que doação é aceitação, do amor e suas conseqüências. A naturalidade humana do Cristo, que se sentiu à vontade na vestimenta dos sofrimentos inalcançáveis a Deus, até então. Creio, em meus mais longínquos pensamentos que Deus, na busca incessante de entender o humano, tornou-se Ele mesmo, para nos mostrar que somos capazes de viver o que nos foi dado e perdemos no tempo: Humanidade.
Lemos, escrevemos, confabulamos, nos irritamos, buscamos incansavelmente a sabedoria do entender de Deus, quando Deus já nos disse desde muito o segredo para a salvação da humanidade: sede humanos. Engraçado como fugimos dessa condição, visto que ser humano é tão simplório que não deve ser isso. Quanto mais busco dentro de mim uma resposta, mais me surgem perguntas. Porquanto, quanto mais pergunto-me, limito-me viver no cercado de minhas coerências, onde o que Deus me pede é que me jogue solta no jardim infinito do Bem Amado. O curral de meu entendimento não pode limitar-me de compreender que Deus se desdobra em minha humanidade. “Quando mais fores humano, quanto mais serás Divino, não se toca o céu se não tens os pés no chão”, já belamente poetizou Pe. Fábio, contudo foi outro padre hoje que me devolveu o que entreguei a Deus. Padre Anchieta. Nunca escutei esse nome. Nunca conjuguei esse verbo. Nunca vi esse rosto. Nascido no interior, lá na serra da chapada da Ibiapaba. Vivente no interior do Ceará, pároco em Camocim, terra linda. Oito meses de sacerdócio com domínio das palavras experiente, como quem acostumado em fazer-se entender em suas vivencias. Homem de falar rebuscado, mais de coração tão simples, que transformava pedra em água, água viva. Era como se o fundo poço sem vida transformava-se em fonte de água para que outros venham a utilizar-se de sua utilidade única, qual seja dar de beber aos sedentos. Em suas palavras de repente o estalo: sou humana, e a humanização de minha divindade a ser seguida é o que me tornará a cada dia mais humana.