23 de junho de 2012

A mulher que muito amou, amanheceu.

Lucas 7, 47 Por isso te digo: seus numerosos pecados lhe foram perdoados, porque ela tem demonstrado muito amor. ... Tua fé te salvou; vai em paz.



Fico pensando no dia seguinte daquela mulher. O que a moveria a partir de então? O que seria de seus amores, desejos, paixões? Até o encontro, seus movimentos eram certos, pois dominava a arte de encenar a própria vida. Com controle sobre os seus sentimentos, não sentia, e ignorada como era, ignorava-se, na surdina de si mesma. Seus olhos, sempre precipitados ao chão, encontravam o vaidoso orgulho de suas vergonhas. Queria, muito queria encerrar-se na multidão de mulheres donas de casa, queridas e amadas pelos seus. Mas bem sabia que o despudor de seus caminhos encontravam a solidão do preconceito. Passou a noite, amanheceu lindo dia, mas não sabia mais o que fazer, pois seus antigos afazeres não traduziam mais a beleza de seus olhos. Trazia consigo os perdões de uma multidão, em um único corpo que,  enfim, lhe pertencia, depois de muito tempo. Trazia em seu peito o amor de um mundo inteiro, e a felicidade de uma família completa, e seu vazio preenchia-se da paz que acometia-se seus encantos. Os olhos, serenos e a face lisa, linda. Sua alma, desnuda, como homem algum jamais a havia despido. Por fim, não mais encenou ou precipitou-se, aguardou a hora certa, o momento certo, e foi, como sempre sonhou: ela mesma.




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