27 de março de 2011

Lectio Divinae

A mulher sou eu. A que vai, a que chega. Essa  mulher que Jesus convida a tomar de sua água viva, e viver uma vida de santidade. A beleza dos versículos narrados pelo Evangelista trazem o movimento das consequências de Jesus. A leveza de seu olhar, os desdobramentos de seu ser. Jesus que de início me convida a ser, e, mais adiante, inebriada por seu amor, me impulsiona a realizar, a verbalizar a vida, a trazer cor, a ir.
Do Evangelho deste domingo destaco dois pontos principais, dois fatores dessa história que me saltam ao coração este instante: a samaritana, que  acreditou e fez acreditar, e os samaritanos que, acreditando primeiramente na mulher, buscaram conhecer Jesus e, por fim, creram Nele. Disto, separo. Mais adiante, em Lucas 10, 30 - 37 (Passagem do bom Samaritano), Jesus nos dá o exemplo fidedígno do que vem a ser o nosso próximo que precisamos amar como a nós mesmos. Mas ainda, nos dá palavras de ordem ao proclamar: "vai e faze tu o mesmo". Disto, depreende-se o ensinamento: se queres ter misericórdia, sede misericordiosos, com atos de fé concretos e sensíveis na vida do próximo.
Em mim hoje os Evangelhos aqui explanados se encontram, se enlaçam. Alcançam as profundezas, o rudimentar amor ao serviço que Deus nos chama a viver: o amor cotidiano, que nos convida a amar sem medidas até as pedras da calçada que pisamos, pois é solo feito por mãos de trabalhador que suou para que o chão se transformasse em calçada, para a arte da vida celebrarmos a riqueza de não sermos sozinhos. Ora, Jesus cerca-me, abre-me a vista, fala-me do que tenho feito e me diz maravilhas e promessas por Seu Nome. Então, me sinto movida a proclamá-lo e trazer outros corações para conhecer meu Sumo Bem, onde, primeiramente pelo que eu vivo, depois pela sua própria experiência viver em Jesus as coisas e causas de Sua vida, e abraçar ou não Sua causa, Seu amor a desdobrar-se continuamente pela Terra inteira.
Atino-me ainda ao fato de Jesus não ter escolhido qualquer cidade para abordar ao poço, mas escolheu a Samaria. Julgo que Ele queria seus Bons Samaritanos próximos a Ele, os seus bons irmãos, suas boas pessoas, a crerem ainda com mais concretude em um Deus acima da legalidade que pairava na religião à época. Jesus quis santificar o que já era bom. Trouxe direção, trouxe sentido, trouxe o Céu para aqueles que já praticavam o amor, mas precisavam olhar para o Céu, e mirá-lo não como impossibilidade, mas por misericórdia de ser esses que trazem o movimento ao amor.
De tudo, realiza-se em mim uma obra de conversão do desdobrar de meus conceitos. De fato, como a mulher que proclama as maravilhas de Deus, devo zelar e cuidar do que Deus confiou aos meus cuidados pois, antes de dar a conhecer Jesus, exponho e me dou a conhecer. Que me ser Senhor sempre prenda-se à Tua graça ao Te exaltar. Que Tua face sempre encubra as minhas misérias e eu consiga ser em fidelidade a tua anunciadora, como a mulher do poço de Jacó. Que meu passado não tenha peso sobre as minhas circunstâncias, mas que minha vontade de santidade sobreponha-se as minhas feridas e vença meu cansaço de ser santa. E que a minha vida seja em Ti caminho, pois as pessoas dessa estrada que construo precisam do Teu amor para curar suas feridas, e recordar de que são preciosas para si mesmas e para Ti, amém.

20 de março de 2011

Nostalgie..

Nostalgie.
Busco interesses. Recuso ligações. Os temores tomam forma, a mesma forma que eu rezava para que não atingissem. Pena, a maioridade independende da vontade dos pais em não querer que os filhos cresçam. Meu querer em pouco interveio, afinal, de que vale deter o crescimento da grama no jardim? Ela sempre cresce, a poda é que fica menos ou mais intensa ao longo das estações ou da desenvolta preguiça.
Sinto-me como uma egoísta, avarenta, aquelas que sempre quer ter vantagem sobre tudo. Ao mesmo passo em que esse desejo encontra-se intrínseco e passou, como um mal presságio. De novo, só existe dentro de mim.
Acho que os poetas sofrem mais. Os artistas são natos desarranjadores das evidências. Sensíveis por completo, se tornam visíveis intocáveis para evitar a mágoa do transtorno certo da decisão incerta. De fato, em brincadeira de gato e rato hora eles ficam face a face. E continuam a desmentir o caso ao acaso, sobrepondo reticências ao que grita por finais, não como decisão de uma vida inteira, pois a vida é sempre infinitamente maior, e carece de resultados finais para novos começos.
Acontecendo, acontece. E passa graça, passa oportunidade. Passa amor, passa. Tudo passa. E a nostálgica lembrança de que no passado tudo se resolveu passando, e até isso passou. Que bom! Vai passar, vai passar, eu sei. É tudo que eu sei.
E até isso passa.

"Além do mais quem busca nunca é indeciso..."