A paralisia de um retrato.
Nunca me detive em análise de tão suntuosa mensagem. Muda, sigo silenciosamente
pelas escadas dessa trama, tão particular e fiel aos sentimentos. Olho em
volta, vejo cenas em branco e preto, fotografias de um tempo incomum. Aliás,
comum tempo de sabotagens aos meus encantos. Singular, sua conjugação transcende
ao intelecto e compreensão, contudo não suporta o anonimato. A revira-volta não
veio, o milagre ainda não chegou: vem a galope, já os ouço! Quiçá, os cavalos
perderam lá sua graça... Junto com o tempo de ontem, na pressa de hoje,
esquecida desventura futura. Tempo, tempo... não o reconheces mais? Estadias de
outras paragens, na procrastinada vida ordinária.
Canto, lugar saboroso.
Escondido... Encolhido. A curvatura da silhueta acomoda-se sem cerimônias. E os
retratos passam. Repassam, retornam, voltam, vão embora. Pretos, brancos... Vez
em quando um vermelho sutil surge no horizonte, mas já passou. O que não se
foi, irá. Será poeira e vento que passa, no prosaico invulgar de um diário
intransferível, transverso sonho de tempo que vai passar, vai passar... Eu sei.
Eclesiastes 3, 1 - 11: Para tudo há um tempo, para
cada coisa há um momento debaixo dos céus: tempo para nascer, e tempo para
morrer; tempo para plantar, e tempo para arrancar o que foi plantado; tempo
para matar, e tempo para sarar; tempo para demolir, e tempo para construir; tempo
para chorar, e tempo para rir; tempo para gemer, e tempo para dançar; tempo
para atirar pedras, e tempo para ajuntá-las; tempo para dar abraços, e tempo
para apartar-se. Tempo para procurar, e tempo para perder; tempo para guardar,
e tempo para jogar fora; tempo para rasgar, e tempo para costurar; tempo para
calar, e tempo para falar; tempo para amar, e tempo para odiar; tempo para a
guerra, e tempo para a paz. Que proveito tira o trabalhador de sua obra? Eu vi o trabalho que Deus impôs aos homens:
todas as coisas que Deus fez são boas, a seu tempo. Ele pôs, além disso, no
seu coração a duração inteira, sem que ninguém possa compreender a obra divina
de um extremo a outro.