23 de novembro de 2010

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A paralisia de um retrato. Nunca me detive em análise de tão suntuosa mensagem. Muda, sigo silenciosamente pelas escadas dessa trama, tão particular e fiel aos sentimentos. Olho em volta, vejo cenas em branco e preto, fotografias de um tempo incomum. Aliás, comum tempo de sabotagens aos meus encantos. Singular, sua conjugação transcende ao intelecto e compreensão, contudo não suporta o anonimato. A revira-volta não veio, o milagre ainda não chegou: vem a galope, já os ouço! Quiçá, os cavalos perderam lá sua graça... Junto com o tempo de ontem, na pressa de hoje, esquecida desventura futura. Tempo, tempo... não o reconheces mais? Estadias de outras paragens, na procrastinada vida ordinária.
Canto, lugar saboroso. Escondido... Encolhido. A curvatura da silhueta acomoda-se sem cerimônias. E os retratos passam. Repassam, retornam, voltam, vão embora. Pretos, brancos... Vez em quando um vermelho sutil surge no horizonte, mas já passou. O que não se foi, irá. Será poeira e vento que passa, no prosaico invulgar de um diário intransferível, transverso sonho de tempo que vai passar, vai passar... Eu sei.



Eclesiastes 3, 1 - 11: Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo dos céus: tempo para nascer, e tempo para morrer; tempo para plantar, e tempo para arrancar o que foi plantado; tempo para matar, e tempo para sarar; tempo para demolir, e tempo para construir; tempo para chorar, e tempo para rir; tempo para gemer, e tempo para dançar; tempo para atirar pedras, e tempo para ajuntá-las; tempo para dar abraços, e tempo para apartar-se. Tempo para procurar, e tempo para perder; tempo para guardar, e tempo para jogar fora; tempo para rasgar, e tempo para costurar; tempo para calar, e tempo para falar; tempo para amar, e tempo para odiar; tempo para a guerra, e tempo para a paz. Que proveito tira o trabalhador de sua obra? Eu vi o trabalho que Deus impôs aos homens: todas as coisas que Deus fez são boas, a seu tempo. Ele pôs, além disso, no seu coração a duração inteira, sem que ninguém possa compreender a obra divina de um extremo a outro.

11 de novembro de 2010

Obrigada!


Um dia incomum e normalmente triste, por sua representatividade em minha história. Um dia insípido, confuso, ao qual faço questão de abster-me do mundo e privá-lo de minha indigestão. Um dia como tantos, um dia como nenhum. Um dia.
Um dia em que abri-me aos meus, aos seus olhares, as minhas fraquezas, aos altares. Um dia em que percebi tamanha predileção e rispidez de meus sentimentos comigo, privando-me da abertura sincera ao Coração de Jesus. Um dia.
Um dia como tantos outros nove dias passados, em anos passados, em tempos passados, em conjugação pretérita imperfeita, à luz do melhor e bom pessimismo futuro. E porque não transmutá-lo, transfigurá-lo em O dia? O dia da reviravolta, sem revolta, no envolto de tantos véus escuros? E foi assim... ñão como ver o mar, mas como ver o próprio Cristo. Aliás, se não o vi, não sei o que vi então...
Se aquele ostensório de metro e meio assim que adentrei a Igreja, de tão imponentemente simples, de adorado e venerado por faces por terra...
Se aquele menino velho que de caduco se perde na vista das linhas das palavras mas é certo e certeiro enveredando nas linhas do evangelho vivido desde a juventude, em homilia livre de composições acessórias...
Se pelo não primeiro e sim seguido permitindo-me a comunhão perfeita em corpo e sangue com meu Cristo, partilhando de sua mesa, literalmente à sua direita, no melhor lugar...
Se pelo chamado à adorá-lo e simplesmente louvá-lo por sua beleza, por sua graça, por suas maravilhas, por seu Ser...
Se pela Maria que me abordonou para afetuosamente dizer-me que eu seja feliz pois já chegou o dia da graça e chegarão ainda mais...
Se pelo "Senhor, eu sei que tu me sondas" depois de andar alguns quarteirões à caminha de "casa"...
Se pelo, por fim, entendimento de ser a Samaritana leprosa do Evangelho, que modestamente e sem saber, até então, voltou para agradecer pela graça alcançada a quatro anos atrás, e, por fim, entender Cristo a me dizer: "sua mãe está no Céu sim, eu só precisava do seu abraço".
Por isso escrevo, por isso vivo. Esse dia que em tudo me foi consolo, até no que não o foi. E por isso agradeço a cada um, tendo rezado ou não, acreditando ou não, pois sei que fazem parte da minha vida, e sei que ficarão felizes com a minha felicidade hoje.
A graça alcançada precisa ser bendita, e bendigo o dom da vida de cada um, que é graça na minha vida, por me permitir a abertura ao mundo.

E esse é meu jeito de dizer: Obrigada!!!