Em muitos momentos fico a divagar o que seria o mundo, que denominação meus amigos de Comunidade querem exprimir para exaurir até a ultima centelha de sua maldade e vaguear nas loucuras palpáveis, e por não raras vezes limitá-lo a uma condição de desprezo em seus corações e nos que são tentados em suas palavras ao mesmo pensamento discriminatório.
Viemos de Deus e o mundo nos foi dado por Ele. O paraíso do Eden, onde tanto nós queremos voltar, o sonho realizável de viver por Deus e para Ele. Esse desejo me impulsiona a fechar-me em um ciclo vicioso e maléfico de um mundo de fantasias religiosas, onde somente nós, filhos realmente fiéis e participantes da construçao do Reino de Deus na terra conseguiremos alcançar a vida Eterna nos braços do Pai.
Sabe, tenho muito, mas muito medo quando a minha religião se torna simplista, ao ponto de pensar que para evangelizar necessito estar dentro de uma igreja, paróquia, comunidade... Para mim, a verdadeira evangelização acontece quando niguém está a me observar ou julgar minha conduta como boa ou má. Os olhos do Amado para mim e seu espírito soprando aos ouvidos a palavra certa a ser dita, o não dito com amor mesmo que o coração esteja aos prantos, o sim dito com doçura, quando o que mais se quer dizer é um não, um sorriso nos lábios de manhã cedo para os colegas de trabalho que não merecem meu mal-humor por uma dor nas costas. É o atender a porta de madrugada, quando o vizinho pede mais pão pois acabou o seu, quando uma visita inesperada lhe bate a porta.
Outrora fui quem não quis ser, mas só descobri hoje, porque tive a graça de persistir num caminho desconhecido, onde todos os outros me foram demolidos. Sou atriz principal de minha história pródiga, com vários coadjuvantes que ajudei a encontrar a luz de Cristo. Encontrar. Se encontrar. Tenho muito medo quando minha religião se fecha em si mesma e esquece de sua função principal: salvar almas. Jesus teve como principal meta na terra salvar a nós, pobres pecadores. Todas as palavras de Jesus, atitudes, atos, ações (nunca omissões) teve por alcance a salvação das nossas almas. Perder isso de vista é perder a essência do Cristianismo que deve viver em mim, ser permeado para ser dissipado entre tudo e todos a minha volta. Pouco importa quantas vezes vou a missa, ao grupo de oração, se sou consagrado, noviço, postulante, comunidade vida, aliança, se desprezo a pessoa humana que passa ao meu lado aos prantos suplicante de ajuda que não sabe pedir. Perder a sensibilidade de humano, é o mesmo que tornar-se diabólico. É quando a religião acontece fora de mim, quando sou chamada a que ela aconteça dentro, lá onde o coração mora. Me exaurir de conviver com pessoas iguais ou melhores do que eu fui, porque hoje sou de comunidade e não devo mais vestir roupa curta, andar com blusa de alças, cantar certas músicas que eu sempre adorei a vida inteira, é uma forma de não servir a Deus.
Em várias passagens bíblicas vemos Jesus em festas, nunca em casa dos mestres da lei. Jesus escolheu a cada de Zaqueu, cobrador de impostos, a pessoa mais prostituída do reino. Que consigamos a coragem de Jesus de viver no prostíbulo, mas que o ser Deus esteja tão concreto dentro de nossa alma que o mundo, prostíbulo da humanidade, seja a nossa porta de entrada para o Céu, não para o inferno. Me trancar em meu mundo, sem buscar a salvação de todos é uma forma de não servir a Deus. Que eu seja capaz de enxergar o raiar do dia com doçura, o por do sol com gratidão, o balanço das ondas do mar com amor, a luz da lua cheia com fervor, as rosas da primavera com emoção, feliz de ter no coração, o Cristo que mora em mim latente de felicidade, pois mesmo sem compreender nada do mistério da vida, a angustia de ser bom seja sempre a salvaguarda das minhas loucuras, sãs teorias de Céu, pois quem faz da santidade vaidade já esqueceu do que é feito o Reino de Deus...